O PROFESSOR SUBSTITUTO – L’Heure de la Sortie

Cartaz do filme O PROFESSOR SUBSTITUTO – L’Heure de la Sortie

Opinião

“Não é um cinema intelectual, é um cinema visceral”- Sébastien Marnier

Por Suzana Vidigal

Numa classe de adolescentes superdotados, um professor se suicida. Pula da janela em plena escola. Outro professor é chamado para assumir a turma, com desafios enormes diante de alunos arrogantes e cruéis. O Professor Substituo, selecionado para o 75º Festival de Veneza no ano passado, conta com Laurent Laffite no papel principal – personagem que não faz questão de ser simpático, até porque é imaturo, nunca termina sua tese, fica intimidado diante dos alunos, mas vai sendo transformado no decorrer do filme. Embora a explosão que vemos seja externa, é metáfora da implosão interna do personagem que, finalmente, toma consciência de si e do mundo.

Em Veneza para apresentar o filme, o diretor francês Sébastien Marnier me recebeu para falar dessa adaptação para o cinema do livro School’s Out, de Christophe Dufossé. O que abre a entrevista é sua declaração para o site do festival, quando diz: “Através dos olhos de um jovem professor, conhecemos uma classe de adolescentes superdotados, até que nos deparamos com um muro…”. O choque de gerações estava evidente. Era preciso falar disso.

 

Cine Garimpo: Que muro é esse separa esses jovens e o professor?

Sébastien Marnier: De fato, o que havia no livro e que me interessava – e todos nós já fomos adolescentes – era mostrar como os adolescentes se fecham no seu mundo e não se misturam ao mundo dos adultos. Me preocupei em construir adolescentes que pensam como adultos e adultos que se comportam de forma imatura, portanto uma inversão de papéis. Estamos falando de alunos superdotados e se eu filmasse de uma maneira realista, pessimista, seria insuportável. Quis construir um filme de gênero, algo como uma fábula, que gerasse reflexão.

 

Cine Garimpo: São superdotados, mas são adolescentes que não acreditam no futuro, não sorriem, não se expressam, são sádicos e agressivos, se automutilam. Por outro lado, estão preocupados com a mudanças climáticas, com a matança de animais. Que tipo de personagens são esses, ambíguos e sempre no limite?

Sébastien Marnier: São adolescentes que preparam seu suicídio coletivo. De alguma forma é um tipo de treinamento militar, uma preparação para um futuro sinistro. O que me interessa também é pensar que os adolescentes, de maneira geral, gostam de se mostrar, de se exibir diante do professor, de se mostrar mais espertos e mais inteligentes. Faz parte de um jogo entre as gerações.

 

Cine Garimpo: E a cena final? É o fim do mundo?

Sébastien Marnier: É preciso lembrar que é um filme de gênero – e a cena final é parte fundamental disso. Considerando todas as catástrofes do planeta, sabemos que todos têm noção do que está acontecendo, do caminho que estamos trilhando, mas ninguém faz nada a respeito, porque cai no esquecimento, porque existe o jogo da política. E o que é muito triste é que nós franceses, principalmente depois dos atentados, notamos que é preciso que uma catástrofe aconteça pra que o povo se una. A gente te que se unir antes da tragédia acontecer! A cena final é sinal dessa derrota, e se o filme tem esse tom pessimista é porque é preciso fazer algo logo, agora ou nunca. O filme é sombrio, porque são tomadas de consciência que se perderem, o ideal político se perdeu nessa nova geração. A única coisa que importa agora é o dinheiro – por isso essa geração jovem está desesperada.

 

Cine Garimpo: Sobre a relação entre os alunos, professor e pais. Notei que a família não aparece no filme, que os alunos não admiram o professor – pelo contrário, o diminuem. Qual a sua importância para a educação?

Sébastien Marnier: É fundamental, mas em se tratando de uma escola elitista e privada, estamos falando da hipocrisia da sociedade, de uma escola que se julga melhor que outras, que julga que seus alunos serão melhores. Por isso não precisei incluir os pais – dá pra imaginá-los burgueses, seu comportamento e sua ideias. Mas como é um filme de suspense, a ideia era não ter adultos por perto, para que não houvesse uma censura às suas atitudes. Uma de minhas referências é o filme Elefante, de Gus Van Sant, que falam da vida adolescente também do ponto de vista estético, plástico – transmitir algo poderoso sem muita explicação psicológica.

 

Cine Garimpo: O filme muda completamente de ritmo com a cena do ônibus – ganha velocidade. E, imagino, que tenha uma razão de ser.

Sébastien Marnier: Imagino o filme como um processo de envenenamento, de hipnose. O personagem de Pierre vai num crescente, vai sendo testado e, de repente, acorda, percebe que está acontecendo algo. Por isso é preciso que seja rápido – como quando esticamos um elástico ao máximo e depois soltamos. Era preciso uma cena empolgante e, embora eu não tivesse a pretensão hollywoodiana – nem tinha dinheiro pra isso –, tentamos filme da forma mais crível possível. O filme começa como algo clássico, normal, mas minha intenção na mudança no som e na montagem é fazer com que o espectador entre no personagem de Pierre fisicamente, a ponto de não notar mais o professor, mas sim de sentir-se como ele. Não é um cinema intelectual, é um cinema visceral; abrir os olhos para o que está acontecendo na realidade do mundo e das relações.

 

 

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