Opinião

Garimpar filmes brasileiros está sendo um eterno prazer, vide a lista publicada aqui no blog de filmes lançados em DVD nos últimos meses, que merecem a sua atenção. Não Por Acaso se encaixa na prateleira dos filmes singelos, cotidianos e absolutamente humanos. Já disse aqui que adoro o trabalho de Rodrigo Santoro, principalmente nos filmes nacionais  (Heleno, Meu País, Bicho de Sete Cabeças, Carandiru, Abril Despedaçado), e mais uma vez é ele quem dá o tom.

Pedro, seu personagem, é um rapaz correto, apaixonado pela namorada e pelo métier, fazer mesas de sinuca. Com a mesma dedicação, cuida da sua marcenaria e de seus sentimentos por Tereza (Branca Messina), com olhar de sincera simplicidade. Ao mesmo tempo, o operador da CET Ênio (Leonardo Medeiros, também em Feliz Natal e Budapeste) ainda alimenta amor pela ex-mulher dona de uma livraria (Graziela Moretto, também em Domésticas, Feliz Natal), ignora a filha que não o conhece e vive a vida cotidiana e sem sentido do tráfego de São Paulo.

Dois segundos a mais mudam o rumo dessas vidas de forma arrebatadora. Os gestos continuam sendo simples e singelos, aparentemente sem qualquer valor, mas que têm poder de transformação impressionante. As escolhas são precisas, no tom que o diretor Philippe Barcinski pretendia dar ao filme: dois segundos fazem diferença e o acaso não teve qualquer escolha.

Repare na trilha sonora, repare no cenário do centro de São Paulo. Não Por Acaso se confunde com a vida da cidade, com o poder fictício de controlar tudo e todos, com a falsa ideia de que temos a vida sob nossas rédeas. Como um programado e estudado jogo de bilhar. O trailer vai contar muita coisa. Eu não sabia de nada quando assisti. Recomendo.