MINHAS TARDES COM MARGUERITTE – La Tête en Friche

Cartaz do filme MINHAS TARDES COM MARGUERITTE – La Tête en Friche

Opinião

“Para ser um bom leitor, é preciso antes ser um bom ouvinte.” – Margueritte

Marguerite é uma senhora de 95 anos (Gisèle Casadeusus, de 96 anos e 76 de carreira!), extremamente culta, que vive em uma casa de repouso para idosos. Germain (Gérard Depardieu, também em Camille Claudel, Piaf – Um Hino ao Amor) é um simples agricultor semi-analfabeto, humilhado e menosprezado pela mãe, que mal consegue juntar as palavras, quem dirá contextualizá-las. O improvável encontro se dá em um parque, onde nasce a amizade entre eles. Ela lê obras famosas em voz alta, ele percebe o texto e pouco a pouco vai se interessando pelas palavras, pela leitura e pelos sentimentos que elas despertam. A improvável amizade se transforma numa relação de completude, em que as diferenças preenchem o outro naquilo que mais lhes faz falta; a leitura desperta nele os sentimentos e ela recebe o que mais precisa no momento, companhia e atenção.

O título em francês de Minhas Tardes com Margueritte é La Tête en Friche, que faz referência ao pouco uso da cabeça, do intelecto, algo como “mente inculta” e se refere obviamente ao personagem bronco e simplório de Germain. Mas é com as palavras que Marguerite planta o gosto pelo conhecimento, pela interpretação e pela companhia das histórias e dos livros. Vejo como uma homenagem à sabedoria, não só a formal, publicada, ensinada nas escolas, mas também àquela aprendida nos relacionamentos e na doação de tempo e de carinho.

Quando terminou o filme, lembrei-me imediatamente de Conversas com meu Jardineiro. Mas eu não tinha em mente que era do mesmo diretor, Jean Becker. Claro! Um famoso pintor e um jardineiro, uma culta senhora e um agricultor, todos com um importante viés humano e universal em comum: a amizade.

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