MEMÓRIA DE QUEM FICA – 18-J

Cartaz do filme MEMÓRIA DE QUEM FICA – 18-J

Opinião

“A explosão matou muita gente que não tinha nada a ver com isso. Mas alguém tinha?” – trecho de um dos curtas

Coincidentemente, hoje os judeus comemoram o Ano Novo, o Rosh Hashaná. Festejam a chegada do ano de 5772, iniciam os 10 dias de reflexão e arrependimento, que se encerarão com o Yon Kipur, o Dia do Perdão. Por acaso, acabei de assistir a Memória de Quem Fica, filme em homenagem às vítimas do atentado à sede de AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina), em 18 de julho de 1994, em Buenos Aires. Quando o filme acabou é que me dei conta da data…

Os jornais argentinos nessa segunda-feira estampavam a conquista do tetracampeonato pelo Brasil na Copa do Mundo de Futebol dos Estados Unidos, no dia anterior. Logo pela manhã, uma bomba explode na sede da comunidade judaica de Buenos Aires, que se preparava para comemorar o seu centenário. Morreram 85 pessoas e mais de 300 foram mutiladas. Da investigação, nada se sabe, ninguém foi punido e as provas foram manipuladas ou destruídas pela justiça argentina.

Esse foi o material de reflexão usado por dez cineastas para expressar o horror, a dor e o inconformismo. É um recurso também explorado em outros filmes, como Paris, Eu Te Amo e Nova York, Eu Te Amo – juntar diversas linguagens e pontos de vista para falar de um só tema. Aqui retrata a unanimidade da indignação. Claro que as referências à cultura judaica são inúmeras, mas eu gosto mais é do forte lado humano de alguns curtas, como o do casal de senhores que se prepara para visitar a filha em Israel, mas é ela quem acaba indo à Buenos Aires para enterrá-los (de Daniel Burman, também de Ninho Vazio, Dois Irmãos); como o tio que morre quando vai à cidade para a circuncisão do sobrinho; como a mãe, que mora longe e se desespera com a possibilidade e falta de notícias do filho que mora no bairro atingido; como o depoimento da atriz Susú Pecoraro, cobrando atitude e justiça; como as imagens em câmara lenta do momento da explosão – cenas que não somos capazes de perceber. Não gosto da escolha de expor as fotos dos mortos no atentado. Não me parece criativo, mas pouco importa. Acho que o filme tem tom de documentário, sendo ficção. E o objetivo é não deixar esquecer, afinal não se faz história sem memória.