JAY KELLY

Cartaz do filme JAY KELLY

Opinião

Onde começa JAY KELLY e onde termina George Clooney é a pergunta valiosa deste filme charmoso, que entra na prateleira claro, dos feel-good movies. Clooney é Kelly, mas também todos os astros de cinema que se dão ao trabalho de perguntar depois de entrar no caminho-sem-volta da fama: quem sou eu mesmo?

Consagrada estrela de Hollywood com todas as pompas e circunstâncias que vemos acontecer pelas redes sociais — e até com aquelas de bastidores —, Jay Kelly embarca em uma viagem pela Europa pra tentar responder também a outra pergunta: que lugar real eu ocupo no mundo? Sim, porque na vida de uma estrela do porte de Kelly, nada parece ser real. Finge-se tudo tão completamente que o que resta mesmo é só solidão.

Mesmo pra quem está sempre rodeado de pessoas, ocasiões, compromissos, homenagens, personagens. O ofício de representar embaralha as cartas da figura pública e da privada, que não se encontrou no jogo da paternidade, do casamento, da amizade. Apostou todas as fichas na carreira, faturou alto, mas se dá conta, aos 45 do segundo tempo, que perdeu uma partida fundamental : aquela que estreita as relações humanas e que constrói as verdadeiras memórias.

Jay Kelly e George Clooney se misturam, assim como se misturam os artistas e seus personagens. É um filme metalinguagem, sem dúvida. E não precisa ser ator, nem atriz pra entender isso. Representamos o tempo todo — guardadas, aqui, as devidas proporções, claro. Mas dá bem pra fazer esse paralelo, o que faz de JAY KELLY um filme com camadas superinteressantes, elenco harmonioso (um Adam Sendler mais introspectivo, o que é um alívio) e toques de humor que dão leveza sem tirar o mérito do diretor Noah Baumbach de contar uma ótima história.

 

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