“Se tem alguém que gosta de você nessa vida é esse menino, Luiz. Tudo que ele queria era ser seu amigo”, diz Priscila, criada com Luiz Gonzaga desde a infância no sertão de Pernambuco e sua fiel escudeira a vida toda. Ela resume em poucas palavras a complexidade da relação entre o Rei do Baião, Luiza Gonzaga, e seu filho, Gonzaguinha. Foram poucos anos de convivência na vida e na música, antes de a morte chegar, para o pai em 1989 e em seguida para o filho, em 1991. Mas o que Breno Silveira fez, também como diretor de Dois Filhos de Francisco, foi contar como traçaram o seu destino, com muita sensibilidade e um olhar um tanto quanto intimista na relação entre pai e filho.
Confesso que pouco conhecia da vida familiar de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha. Sem fazer melodrama, mas dando a devida importância ao relacionamento entre pai e filho, ou ausência dele, às diferenças ideológicas e comportamentais e à sua música, Silveira acerta no tom e conta uma bela história. Sofrida, mas vivida. Com sorriso estampado no rosto, os três atores que interpretam Luiz Gonzaga dão vida ao personagem do rei do baião, que saiu de sua casa simples no sertão por causa de uma desilusão amorosa e penou muito até encontrar um ritmo na sanfona que fizesse a diferença. E o fazem com coragem e muita competência.
Gonzaguinha cresce sem a mãe, que morre de tuberculose, e sem o pai, que está preocupado em fazer a carreira e ganhar dinheiro. De uma maneira atrapalhada e pouco habilidosa, Luiz Gonzaga constrói uma relação com o filho fundamentada na mágoa e no ressentimento. Gozaguinha faz carreira sem ficar na sombra do pai, o compositor de Asa Branca, trilhando um caminho diferente, mas vai se reconciliar lá na frente, quando a carreira do pai já está em decadência. Quando se encontram nessa fase, Gonzaguinha resolve entrevistar o pai. É através do momento da entrevista que o roteiro se desenrola.
Delicioso de ver na sua musicalidade, brasilidade e complexidade familiar. Figuras públicas, ícones da música e do legado brasileiro, Gonzaga – De Pai Para Filhodeve ser visto, principalmente se você pouco sabe sobre esses personagens. Por um momento me esqueci de que Gonzaguinha já tinha morrido – e faz 21 anos. Tão presente é a sua imagem, tamanha a semelhança física do ator com o personagem e sua interpretação cuidadosa e talentosa. Agora fica selada em filme, a historia de pai para filho.
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