GAROTAS – Bande de Filles

Cartaz do filme GAROTAS – Bande de Filles
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Opinião

Outro dia mesmo garimpei filmes sobre adolescência. Selecionei produções de nacionalidades e realidades bem distintas, mas é curioso notar que essa fase é igual em qualquer canto. Só muda o endereço. As questões sobre sexualidade, autoafirmação, aceitação pelo grupo, bullying são universais. Até assusta. Não entrou na minha lista o ótimo Entre os Muros da Escola, que mostra a realidade de uma escola na periferia de Paris, que recebe principalmente filhos de imigrantes. Agora que assisti a Garotas, da francesa Céline Sciamma, esse filme de Laurent Cantet não me sai da cabeça.

Cantet, que venceu a Palma de Ouro em Cannes com Entre Les Murs, é diretor também de Foxfire – Confissões de uma Gangue de Garotas. Como o nome já diz, é sobre meninas adolescente, suas gangues e seus objetivos escusos, que definem seu território de atuação, preparam-se sem medo para enfrentamentos e são capazes de tudo para marcar território. Uma juventude que transgride e não quer nem saber de comprar a passagem de volta. Gangue de Garotas é como deveria chamar este novo filme da cineasta Céline Sciamma, e não só Garotas. Acho até interessante a escolha feita pela distribuidora no Brasil – talvez seja na tentativa de não descriminar o grupo, de dar a ele um viés humanista, quase que uma chance em meio a tanta audácia.

Garotas é uma produção escrita e dirigida por uma mulher, que fala sobre mulheres, mas é para todos, sem exceção. Estamos mais acostumados a ver no cinema relatos de gangues masculinas, recheados de violência e intimidação destemidas. Quando entra no feminino, a ousadia passa pela vaidade, pela beleza, pelo desejo da maternidade, pela dúvida em deixar a família. Em Garotas, Céline faz isso: mostra o ciclo vicioso da vida na periferia, do desinteresse pela educação, do subemprego, do dinheiro fácil, do crime e da prostituição nas comunidades negras que vivem em guetos fora de Paris. Filhos de imigrantes que sofrem com toda a questão racial que transtorna a Europa e que deixa as autoridades cada vez mais perturbadas e sem saber como agir, os jovens se sentem carta fora do baralho e são presas fáceis para os espertinhos aliciadores, agiotas e gigolôs de plantão. A diretora constrói tudo isso através de um grupo de jovens populares, que cativa uma menina mais frágil e suscetível, dá a ela as ferramentas para sair da caretice da família e se dar supostamente bem.

A gente não precisa ir muito longe para transportar essa realidade dos guetos raciais, do preconceito, da dificuldade de absorção do imigrante e suas diferenças culturais na sociedade. Basta olhar para nós mesmos. Garotas tem um contraste bonito entre a convicção do sonho e a dureza da realidade na figura das meninas – há, inclusive, cenas lindas envoltas pela trilha sonora escolhida a dedo. Sensível, assim como fez em Tomboy (também muito bom), Céline Sciamma tem realmente talento em mostrar o jovem nas suas peculiaridades, no contexto da minoria, na tentativa de escrever sua própria história. Diz respeito a todos nós.

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