ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA
Opinião
Era Uma Vez Eu, Verônica é isso mesmo. Um filme sobre um “eu”, uma reflexão sobre a vida, sobre o lugar que se ocupa no mundo. Um exercício de introspecção, um “fechamento para balanço” – tão precioso e necessário em algumas fases da vida. Para tanto, exige tempo, olhar cuidadoso e atenção aos detalhes e silêncios propostos pelo diretor Marcelo Gomes, também de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo – que também é uma viagem interior.
E o que o diretor propõe são 91 minutos de observação. Quem executa o trabalho de análise é a própria Verônica, que registra suas impressões, sentimentos, sensações, dúvidas em um gravador. O filme começa e ela se despede de tudo que foi registrado durante seus anos como estudante de medicina. Agora inicia a Residência em um hospital público de Recife e questiona tudo e todos. Inclusive ela mesma. Seu relacionamento com Gustavo (João Miguel, também em Xingu, À Beira do Caminho, Gonzaga, De Pai Pra Filho, Estômago). Se quer ser médica, se quer namorar, se quer lidar com pessoas e não mais com livros e casos teóricos, se quer viver desta maneira. Uma típica crise existencial, admitida por ela mesma, já que não tem lá muito motivo para estar deprimida: tem um emprego, é reconhecida no trabalho, tem amigos, consegue se divertir, fazer sexo (que é a sua válvula de escape).
Você observa, Verônica vive. E faz uma escolha entre ser feliz e passar a vida se queixando. Aqui está uma das grandezas deste filme que, sem dúvida, não é para qualquer público: tratar do comum, da dúvida que assola a mais comum das criaturas, com naturalidade, sem fazer um dramalhão, mas imprimindo na personagem a força da indiferença. E aqui pego o gancho para dizer que isso só é possível se a atriz é boa, muito boa. Hermila Guedes tem o olhar de quem procura, o sorriso de quem tem a felicidade dentro de si e só precisa optar por ela. Mostra o Recife como qualquer outra cidade, que enderece o cidadão se ele não se dá conta de que a cidade também guarda seus tesouros. É a vida das obrigações se sobrepondo aos prazeres.
Só de uma coisa Verônica não tem dúvida: do amor pelo pai, pela família, pelo incondicional. No mais, precisa optar. E ter livre arbítrio pode ser algo duro de lidar. É sobre isso que o filme fala. No fundo, a felicidade é uma escolha.
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