Opinião

Rithy Panh é o mais importante cineasta do Camboja. É sobrevivente do genocídio cometido pelo Khmer Vermelho nos anos 1970, foi resgatado aos 15 anos pela Cruz Vermelha depois de ver sua família morrer de fome e exaustão, e chegou na frança em 1979 pra começar uma nova vida. É um contador de histórias que busca recursos pra não deixar nada de lado. Seu cinema usa imagens documentais e ficcionais, além de reconstruir com bonecos aquilo que nem a ficção ou o documentário dão conta. Mas sua vivência não deixa escapar nada.

ENCONTRO COM O DITADOR, assim como muitos de seus filmes, se volta pra esse momento do genocídio entre 1975 e 1979, quando 1,7 milhão de pessoas foram exterminadas pela ditadura comunista de Pol Pot. Baseado numa história real, acompanha três jornalistas franceses convidados para um encontro com o ditador. Lise desconfia de tudo, sabe onde está pisando e tem amigos que já sofreram represálias do regime; Alain simpatiza com a causa comunista e Paul é fotojornalista em um lugar onde a imagem é denúncia e a propaganda comunista é taxativa.

Deixados na pista de pouso ao desembarcar e hospedados como se aprisionados, os franceses nos levam junto no desconfortável trajeto por um país em que os mandos são ditados pelas mãos implacáveis de Pol Pot, que está sempre imerso nas sombras. Assim são os ditadores-assassinos, obscuros e mentirosos.

Diante de três posturas diferentes, os jornalistas enfrentam, cada um à sua maneira, as mentiras e encenações montadas pra estrangeiro ver. Imagem montada pra ser transmitida ao ocidente. A farsa dos ditadores protagonizada aqui pela violência tanto das imagens documentais, ficcionais ou figurativas. Tanto faz. O que Rithy Panh transmite é uma tensão constante na experiência de cada personagem. A violência presente na hospedagem, na juventude perdida, na infância abusada, no desigualdade, na fome.

Pontual sobre o Camboja, mas absolutamente universal ainda nos dias de hoje. Atualidade sem data pra acabar.