ELAS – ELLES

Cartaz do filme ELAS – ELLES
Ano de lançamento:
Gênero:
Estado de espírito:
Duração:

Opinião

Anne (Juliette Binoche) é aquela “mulher-polvo”, que cuida da casa, lava, limpa, cozinha (inclusive par o chefe do marido), cuida dos filhos (um adolescente indolente e um menino menor, que não desgruda do videogame) e ainda trabalha! É jornalista da revista Elle e está se dedicando a uma matéria sobre estudantes prostitutas. A partir da vivência e das entrevista com as garotas, Anne passa a questionar sua satisfação no casamento e no sexo. Intimista, Elas é essencialmente Juliettte Binoche do começo ao fim, não dá para separar uma coisa da outra (também em A Insustentável Leveza do Ser e O Paciente Inglês). Portanto, é preciso gostar do seu trabalho. Eu particularmente gosto, sinto nela uma entrega ao personagem – e aqui isso é fundamental para que o filme tenha realmente algo a dizer. Mas repito, é intimista demais, no tema relacionamento com ela mesma, com seu corpo, seu marido, sua sexualidade e até no paradoxo era feminista versus tarefas que a mulher-polvo precisa dar conta.

Uma das garotas que Anne entrevista e serve como personagem para sua matéria é Charlotte (Anaïs Demoustier), uma jovem parisiense de classe média e família estruturada, que trabalha no comércio para camuflar o dinheiro que ganha na prostituição e não levantar suspeita perante os pais e o namorado. Personagem bastante real, bem construída. A outra é Alicja (Joanna Kulig), uma imigrante polonesa que quer esbanjar o dinheiro que ganha, sem medo ou culpa. Essa já é mais caricata, algo mais esperado e até preconceituoso por ser imigrante. São as suas histórias que vão mexer com o sentimento de Anne, fazendo com que ela mergulhe – inundada pela música clássica – no seu íntimo para se dar conta do que está realmente acontecendo na sua vida.

O curioso do filme – e o que eu acho que deve ser dito – é que as garotas não só contam o que vivem, o que fazem com os clientes, mas também envolvem Anne em um momento que ela está fragilizada, que a vida está perdida na rotina e que o prazer parece ter ficado para último plano. Os fetiches e as cenas de sexo – e violência sexual – são explícitos, não só para nós espectadores, mas para Anne, que passa a questionar a fidelidade do marido (as garotas atendem principalmente homens casados, bem sucedidos, que estão cheios da monotonia do casamento) e o seu papel como mulher.
Da diretor polonesa Malgorzata Szumowska, Elles pode ser interssante para mulheres, como diz o nome. Um homem não faria um filme desses, é feminino demais – assim como uma mulher não dirigiria Shame da maneira como fez o diretor Steve McQueen com as questões da masculinidade (guardadas as devidas proporções, porque Shame é muito superior em qualidade e intensidade). É o retrato de uma mulher insatisfeita, em vários aspectos da vida e que precisa se encaixar novamente naquele contexto. Isso incomoda, talvez por ser tão comum. Mulheres-polvo que se cuidem!

Trailers

Comentários