DWELLING AMONG THE GODS
Opinião
“Eu nasci como refugiada iraniana e ainda sou — embora isso tenha acontecido há 27 anos” diz a atriz Fereshteh Hosseini, que faz a protagonista de mesmo nome, que representa uma história real e a sua própria — prova de que tantas histórias se repetem no detalhe. Enquanto encenava a história da família afegã que foge do país em direção à Alemanha, ele relembrava o caminho percorrido pela própria família e mesclava ao roteiro passagens que ela viveu.
Em DWELLING AMONG THE GODS, Fareshteh está com o marido e os três filhos em Belgrado, de passagem pra seguir pela fronteira com a Hungria. Na Sérvia, descobre que seu irmão pode ter morrido afogado. Há um corpo que precisa ser identificado, mas como passou muito tempo na água, está em decomposição e só o DNA resolveria. Fareshteh, então, pede que seus pais mandem o DNA pra conferência e família tem que ficar semanas a mais em Belgrado esperando o resultado, mesmo sabendo que a fronteira pode fechar e que eles podem não conseguir chegar no destino. Ela não abre mão de dar ao irmão um enterro apropriado.
Tensão constante, permeada por questões íntimas de família, pelo rito de passagem da filha adolescente, pela mulher que não pode fazer suas próprias escolhas, pela amizade que surge no ambiente improvável e vulnerável dos refugiados. Intenso e emocionante, fala de tantos corpos enterrados sem nome ou sem seus ritos religiosos, de famílias que não podem se despedir dos seus entes queridos. São lutos intermináveis em diversas fronteiras por que passam os imigrantes tentando chegar na Europa, mas não só lá. Vale pra todos. Emocionada, Fareshteh diz que sempre quis fazer algo pelos imigrantes, já que eles estão sendo ignorados desde sempre.
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