DRIVE MY CAR
Opinião
Filmes que vêm do Japão têm ritmo diferente. Não adianta assistir a DRIVE MY CAR, obra que levou o Oscar de filme internacional — e era o favorito mesmo — com olhar de quem quer algo rápido, fechado, conclusivo. Pelo contrário. Meu convite pra hoje é embarcar nessa viagem interior proposta por Ryûsyke Hamaguchi (também de Roda do Destino), a partir da leitura que o diretor japonês fez do conto de Haruki Murakami.
Tanto é interior e profunda que a cena mais bonita do filme prescinde de palavras. Aqui também, assim como na obra que ganhou o Oscar de melhor filme, “Na Voz do Coração”, aqui também tem linguagem de sinais lindamente executada através da personagem que é atriz e atua com o protagonista na peça, já que ele é diretor de teatro. Singela, didática, sendo que é ela quem ensina a ele, sem precisar dizer nada, nem olhar no olho, o que é viver.
Kafuku, o protagonista, é apresentado na primeira parte do filme, sofre um revés, depois outro, e que passa grande parte das 3 horas tentando juntar seus cacos internos de 2 vasos bruscamente quebrados — sim, são 2, e não só a perda. Por isso é preciso 3 horas — e Hamaguchi não tem problema com isso. Constrói o ritmo que acha necessário para que o personagem realmente faça a viagem.
É sobre luto, sobre reencontro. Conhecer a motorista que vai dirigir seu carro é uma metáfora também dessa mão estendida tão necessária quando a vulnerabilidade bate à porta e não damos mais conta de nós mesmos.
Ryûsyke Hamaguchi estava na Belinale, era um dos jurados do Festival de Berlim este ano. Já tinha ganho vários prêmios com o filme e agora foi coroado com melhor filme internacional no Oscar. É merecido, mas você precisa entrar como quem entra na viagem interior de alguém que precisa de tempo, de distanciamento de si mesmo pra se ver e enxergar o novo chegando.
Quem nunca, não é mesmo?



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