DOMÉSTICAS
Opinião
A gente se acostuma e muitas vezes esquece de notar. Nota quando perde – coisa cada vez mais frequente nas famílias brasileiras acostumadas a deixar comida, roupa, casa e filhos aos cuidados das empregadas domésticas. Está cada vez mais raro e difícil conseguir alguém de confiança – quisito fundamental – para ajudar nas tarefas rotineiras da casa e são elas as grandes protagonistas deste filme dirigido por Fernando Meirelles (também em Ensaio sobre a Cegueira, O Jardineiro Fiel, Cidade de Deus) e Nando Olival (também de Os 3). Num panorama que oscila entre a comédia e a dureza da realidade dessas pessoas que vivem a vida de outras famílias, sem ao menos serem notadas, achei Domésticas interessante, principalmente por não vitimizar nem um dos lados. Essa é a cara da nossa sociedade, com todos os vícios serviçais que trazemos desde sempre. Acho inclusive que os diretores conseguiram fugir do drama, construir personagens capazes de tirar boas risadas de situações bastante corriqueiras e, ao mesmo tempo, nos fazer parar para pensar.
Elas são Cida, Roxane (Graziella Moretto, também em Feliz Natal), Quitéria, Raimunda e Créo – cada uma com seu perfil, seus sonhos, lutas e amarguras. Todas trabalham como domésticas, muitas vezes sofrendo com a indiferença e o pouco caso. Numa cidade cruel e desigual como São Paulo, o filme faz um paralelo e contrasta os luxos e bens da classe média alta, que é capaz de pagar uma funcionária, e a vida pobre e sacrificada das domésticas, que sonham em trabalhar como modelo ou numa “firma”. Claro que nem tudo são flores e esse não é um tratado sobre a desigualdade social – nem do meu lado, nem do lado dos diretores do filme. É somente uma constatação – e uma homenagem – a pessoas que estão dentro das casas, cuidando do que nos é mais íntimo e muitas vezes do que nos é mais precioso, os filhos. Uma mão lava a outra – como se diz por aí.
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