DESEJO E PERIGO – Lust, Caution (Se, Jie)
Direção: Ang Lee
Ano de lançamento: 2007
País: China
Gênero: Drama
Estado de espírito: Para Entender o Nosso Mundo
Duração: 157 min
Opinião
Leão de Ouro em Veneza em 2007
Desejo e Perigo é um filme belíssimo. Para começo de conversa, quero dizer que a qualidade plástica e a fotografia, aliadas à construção de uma época, são impecáveis e já valem o programa. A Xangai dos anos 40 é mostrada com todos os detalhes, não só a cenografia, mas também os costumes, a política, a tradição.
Outro ponto muito interessante é o clima de perigo iminente, de tensão, de traição e suspense – belo trabalho do diretor Ang Lee, também de O Segredo de Brokeback Montain e O Tigre e o Dragão. É como se a angústia da emboscada estivesse presente o tempo todo – assim como deve ter sido naquela época e em tantas outras. Nem as cenas de sexo escapam do clima de alerta – achei, inclusive, que por isso foram feitas de maneira tão realista, iluminadas, sem qualquer censura, sombra ou maquiagem no cenário. Dramaticidade intensa, como se os atores estivesse no limite entre entregar-se e detonar-se, como se do ato dependesse a vida.
Vale lembrar que o enredo também é muito bom. Descobri nas pesquisas que o diretor adaptou essa história de um livro escrito por Eileen Chang, uma das escritoras chinesas mais conhecidas do oriente. E inclusive que a história seria autobiográfica. Ambientada na China sob domínio japonês na Segunda Guerra, o filme conta como um grupo de jovens universitários se envolve com o movimento de resistência e planeja assassinar um figurão chinês que colabora com o governo do Japão. Se contar mais, estraga. Mas não estraga pedir que reparem nas cenas detalhadamente construídas, nas mulheres jogando majong, na Xangai tumultuada, na privação da população, na crueldade da intolerância do regime, na desconfiança de tudo e de todos. Só senti que ela sai de cena para dar lugar aos humanos, enquanto seres que se importam uns com os outros, no instante em que Wang (Wei Tang) canta para Mr. Yee (Tony Leung Chiu Wai) no restaurante japonês. E para isso bastou um olhar. Não é qualquer um que consegue essa proeza.
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