DEPOIS DA CAÇADA – AFTER THE HUNT
Opinião
Uma crônica sobre dois filmes que se encontram na linha tênue entre expectativa entre o que se vende, o que se entrega.
Contrariando as minhas expectativas, Casa de Dinamite, de Kathryn Bigelow, desceu mais redondo do que DEPOIS DA CAÇADA, de Luca Guadagnino. Expectativas que giravam em torno da temática: no primeiro, os personagens estão dentro da Casa Branca e têm que lidar com um ataque iminente de mísseis ao território norte-americano; no segundo, acusações de abuso sexual num universo acadêmico de primeira linha expõem comportamentos tóxicos, egos e vaidades, aproveitando pra relativizar os discursos e valorizar tanto o benefício da dúvida, quanto o desconforto causado pelas relações humanas.

Com Rebecca Ferguson e Julia Roberts respectivamente no protagonismo, uma história não tem nada a ver com a outra. Mas se encontram na linha que separa a coerência do fragmentos de um mosaico. Enquanto a história em que agentes e funcionários do alto escalão americano têm que tomar decisões cruciais para a sobrevivência da nação (numa pegada de fim de mundo, claro, goste você ou não) tem coerência, bom ritmo e equilíbrio na mensagem e formato apresentados, o ambiente acadêmico dos profissionais teoricamente intelectualmente gabaritados — mas pouco desenvolvidos emocionalmente — é confuso, desconectado e raso.
Tudo isso pra dizer que Casa de Dinamite entrega o que propões: suspense, drama e a pergunta que não quer calar: o que será de nós? DEPOIS DA CAÇADA tem música brasileira fora de contexto, uma cena final que acabou com minhas esperanças de um desfecho alentador, uma pseudo-homenagem a Woody Allen — que mais parece meme, considerando a temática do filme —, um ótimo elenco que não sustenta o desconforto pretendido com o assunto do benefício da dúvida e uma tentativa de construir um mistério em torno da personagem à la Disclaimer, com Cate Blanchett, sem o menor sentido.
Pena. Guadagnino mandou bem em Rivais e, claro, em Me Chame pelo Seu Nome, e continuo firme acreditando que virão outros bons filmes — embora seja preciso dizer que Queer não me convenceu nem um pouco, apesar de Daniel Craig se mostrar um tanto quanto versátil. Parafraseando a personagem de Julia no filme, nem tudo é feito pra nos sentirmos confortáveis nessa vida. Concordo, mas o que eu fiquei mesmo foi impaciente.

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