DAHOMEY
Opinião
Especial para a 74ª Berlinale
Em 2021, a França devolveu à República do Benin 26 artefatos roubados do país durante o período colonial. “De 7 mil, foram repatriados uma ínfima parte”, diz a diretora e roteirista franco-selegalesa Mati Diop. “É humilhante.”
Diop (também de Atlantique) acompanha neste documentário DAHOMEY a saída das peças do museu de Paris, a sua chegada em Benin e a repercussão que isso trouxe. Embora seja proporcionalmente uma quantidade irrelevante, a medida é de suma importância pra iniciar o debate que não pode calar: como conectar as novas gerações com a herança cultural, linguística, ancestral, religiosa do povo foi roubada?
DAHOMEY é o nome do reino que perdeu não só seus tesouros, mas também sua língua. No debate na universidade, vemos os jovens dizendo que não são capazes de se comunicar no seu idioma, que foram ensinados em francês e isso, já de saída, é o que possibilita o apagamento da cultura e tradição de um país. Como fazer esta reparação histórica? Como repensar o papel dos museus do ponto de vista africano, já que seu conceito foi inventado pelo ocidente? Como revisar o aprendizado nas escolas e universidades africanas para que sua história seja contada do ponto de vista local de modo a trazer o debate?
Muitas questões colocadas neste documentário enxuto, informativo e, principalmente, rico em reflexões que dizem muito também sobre nós, brasileiros. O quanto a tentativa de apagamento da cultura negra no país reforça o preconceito, o racismo e a perpetuação das regalias de poder a quem sempre o deteve. DAHOMEY é uma joia a ser emprestada para todas as ex-colônias que tiveram parte da história e da riqueza material e cultural roubada.
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