Opinião

Sem querer ser redundante, mas já sendo, a história é sobre coração e alma mesmo. Acontece que o título em francês vai por outro caminho. Fala em “cuidar dos vivos”, o que pareceria um pouco macabro – coisa que o filme não tem.

Tem o drama preciso e delicadamente tratado de uma família que perde o filho adolescente num acidente de carro, precisa decidir se doa seus órgãos, principalmente o coração saudável para uma mulher que sofre de uma cardiopatia grave e sua única chance de viver novamente é o transplante.

É delicada – e dolorosa, claro – a mão que a diretora coloca sobre o sobre os pais que precisam lidar com a morte do filho. É amorosa a mão que ela coloca sobre os filhos que precisam conviver com a mãe que já tem uma qualidade de vida comprometida por causa do coração que não funciona mais como deveria. A costura dos personagens no centro dessas duas famílias, médicos e a equipe do hospital, é minuciosa, silenciosa, mas fundamental. Na prática, nada aconteceria sem eles; na teoria, eles são coadjuvantes no drama particular de cada um.

O coração é literalmente transplantado – o passo a passo é mostrado e, mesmo pra quem não entende nada de medicina e é incapaz de dizer o quão perto da realidade é esse recorte – é envolvente e emocionante o cuidado com o órgão em si, mas também, no personagem principalmente do ator Tahar Rahim, no cuidado com a alma.