FESTIVAL DE CANNES 2010

Cartaz do filme FESTIVAL DE CANNES 2010
País:
TAGS:

Opinião

Foi libertado na terça-feira o cineasta iraniano Jafar Panahi, preso desde 1º de março pelas autoridades do seu país. Ele foi convidado a fazer parte do júri do festival, mas a acusação de que estaria produzindo um filme contrário ao regime o colocou na prisão. Isso só tem a ver com Cannes porque foi essa a bandeira levantada pela atriz Juliette Binoche (também em O Paciente Inglês, Horas de Verão, Paris), vencedora do prêmio de melhor atriz por sua participação em Certified Copy. Nesse seu trabalho com outro diretor iraniano, o Abbas Kiarostami, aproveitou o palco do elegante Grand Théâtre Lumière para se solidarizar com a causa. Se funcionou? Pelo menos ele foi solto dois dias depois – o que não evita outras atrocidades sem justificativa, em se tratando de regimes autocratas como o do Irã. Curioso isso em uma semana em que tanto se falou da intermediação do Brasil no acordo entre Irã e Turquia.

Parece que Cannes 2010 estaria mesmo revestido pela seara política. A Palma de Ouro foi dada ao filme do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives, que quase não conseguiu comparecer à Riviera Francesa por causa dos violentos conflitos entre oposicionistas e governo do seu país. Mas chegou lá – apesar de o filme, que fala reencarnação, ter sido de gosto controverso. Teremos que assistir para opinar, mas o que já se sabe é que o presidente do júri, o cineasta Tim Burton (também de Alice no País das Maravilhas), tem um gosto pelo bizarro. Pode fazer sentido por isso.

Coincidentemente, o vencedor do prêmio de Um Certo Olhar (categoria interessantíssima, que já consagrou ótimos filmes como Pecado da Carne e A Banda) brindou desta vez o filme coreano Ha Ha Ha, de Hong Sangsoo. Bem na semana em que jornais estampam a notícia da ruptura entre as duas Coreias – se é que ainda havia algo em comum entre elas, além da área desmilitarizada entre os dois territórios.

Podem ser só coincidências, mas o fato é que Cannes colocou na mídia alguns dos países incluídos no hall dos complicados. Mas os comentários gerais foram de que o festival francês já foi melhor. Vamos conferir quando os filmes chegarem por aqui, mas para quem já deu a Palma de Ouro para produções tão marcantes como A Fita Branca, Entre os Muros da Escola, A Criança, O Pianista, O Quarto do Filho, naturalmente acendemos o sinal de alerta em relação a um vencedor com tantas ressalvas.

A exceção fica por conta de Javier Bardem e Elio Germano, espanhol e italiano que levaram o prêmio de interpretação pelos filmes Biutiful e La Nostra Vita respectivamente. Representam países que andam sim nos noticiários, já que as cinzas do vulcão islandês têm deixado o clima econômico tenso com mais frequência do que o desejado. Mas é isso. Afinal, Cannes é Cannes e ninguém é de ferro para levar tudo muito a sério.

Comentários