CADA UM COM SEU CINEMA – Chacun son Cinéma

Opinião
A ideia é espetacular – não porque seja original, mas por nos fazer pensar no que o cinema desperta dentro de nós. Trinta e seis diretores renomados, de diversas nacionalidades, foram convidados a produzir um curta sobre a sétima arte para celebrar os 60 anos do Festival de Cannes, reproduzindo nas telas aquela sensação única que é o momento do apagar das luzes, quando o filme começa e a magia se instala. Cada curta tem três minutos – incrível como dá tempo de transmitir em tão pouco tempo, tantos e tão diversos sentimentos. Adoro esse tipo de abordagem, quando um tema é lido sob diversos prismas. Um presente para qualquer cinéfilo. Assim como outros filmes que seguem a mesma linha, como a série Cities of Love (Paris, Eu Te Amo, Nova York, Eu Te Amo), em que vários diretores fazem um curta com a sua visão das cidades, e 11 de Setembro, também uma revisita ao atentado às Torres Gêmeas pelo olhar de diferentes cineastas.
Não conseguiria contar todas as histórias, são muitas e muito variadas. Se for possível assistir um a um, tendo em mente pelo menos algo da filmografia do diretor, tanto melhor. Fica mais fácil captar a sutileza da sua releitura do tema (o Cine Garimpo tem diversos filmes dos diretores convidados). O egípcio Youssef Chahine, por exemplo, conta como foi a sua primeira temporada em Cannes, como diretor iniciante, até receber o prêmio pelo conjunto da obra depois de 47 anos; o francês Claude Lelouch homenageia os pais, responsáveis pelo seu contato com o cinema; o israelense Amos Gitai fala do conflito árabe-israelense com tom de rotina e de tragédia humana e política; David Cronenberg questiona o fim do cinema e dos judeus, como notícia; o italiano Nanni Moretti faz uma crônica da vida e do cinema, com sua típica comédia irônica; o alemão Win Wenders filma a miséria africana indo ao cinema. Curioso notar que cada diretor recebe a proposta de uma maneira e faz uma leitura como entende, seja de forma vivencial, pessoal, política ou saudosista. Pena que o brasileiro Walter Sales tenha feito um curta esquisito com a dupla Caju e Castanha – mais pareceu uma peça publicitária do festival em si – talento jogado fora.
De uma maneira geral, Cada um Com Seu Cinema é um exercício curioso e interessante de como uma mesma mensagem chega para cada um de nós, da mesma maneira que cada um vivencia o mesmo momento de forma distinta. O mais bacana é que o cinema se confunde com a vida e se mistura intensamente com todas as nossas mais genuínas emoções.
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