BLIND
Opinião
Alguns filmes sobre a cegueira me marcaram de modo especial. A começar pelo maravilhoso italiano Vermelho Como o Céu; passando pelos angustiantes Ensaio sobre a Cegueira e Sentidos do Amor; pela revelação brasileira Hoje Eu Quero Voltar Sozinho; e terminando no lindo clássico Perfume de Mulher. Não dá para não se impressionar – deixar-nos levar e mergulhar no universo de quem não vê é uma viagem, no mínimo, diferente.
Que normalmente se torna aflitiva. Dificilmente conseguimos nos imaginar vivos sem a visão, ativos sem ver o mundo. E felizes? Nem pensar. É inimaginável e é por isso que filmes bem feitos sobre a cegueira nos rendem esse sentimento da proximidade e intimidade com a escuridão que tanto tememos. E por isso são tão impressionantes. Mergulhei no norueguês Blind como quem mergulha nessa vasta nuvem negra. E me deixei levar pela personagem Ingrid, que fica cega por causa de uma doença e se fecha dentro do seu apartamento, fugindo de tudo e de todos.
Ingrid é quem conta a história. Expõe sua sensação em relação ao marido e seu medo de se expor ao mundo nessa nova condição. Enquanto vive fechada, a vida continua lá fora, seu marido circula com amigos, um homem é obcecado por pornografia, uma moça se separa e se muda para Oslo para começar uma vida nova. Além da história de Ingrid e sua nova dimensão da realidade, outras histórias vão sendo escritas e o roteiro do também diretor Eskil Vogt cresce a cada minuto. Torna-se mais interessante à medida que os personagens ganham corpo, para culminar num desfecho engenhoso e muito original.
Blind consegue nos transportar para a tela, mas só explica como faz isso bem no final. Venceu melhor filme estrangeiro de drama do júri e roteiro no Festival de Sundance e vem surpreendendo a quem assiste. Embarque na rotina de Ingrid, mesmo que ela lhe pareça pacata e triste. É por essas e outras que sou fã do cinema escandinavo. Fala do ser humano com uma sensibilidade ímpar, sem medo de parecer elaborado demais. E é elaborado, com muita personalidade.
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