BABEL
Opinião
Babel é o tipo do filme que sempre traz sensações novas. Por isso, vale a pena rever. Fala de várias vidas que se entrelaçam, que têm nós profundos a serem desatados e que mexem com todo o universo ao redor. Mostra a força do acaso, da fatalidade, mas também das escolhas que fazemos. Tudo, tudo mesmo tem suas consequências.
O cenário do filme se alterna por três pontos do planeta, com diálogos em inglês, francês, espanhol, japonês, árabe – daí a referência do nome, Babel. Ora estamos no Marrocos, ora em Tóquio, ora no México, na fronteira com a Califórnia. O gatilho da trama é um acidente: dois garotos marroquinos brincam com o rifle que o pai acaba de comprar. Um dos tiros atinge um ônibus de turistas, entre eles Richard (Brad Pitt, também em Bastardos Inglórios) e sua mulher Susan (Cate Blanchett), que é ferida. Seus filhos estão em San Diego, com a babá mexicana, Amélia. Por causa do acidente, Amélia tem que ficar mais tempo com as crianças e resolve levá-las para o México, para a festa de casamento de seu filho. Paralelamente a adolescente japonesa surda-muda Cheiko passa por maus bocados no Japão. Não sabe lidar com o suicídio de sua mãe e com suas frustrações sexuais, apesar dos esforços do pai (Kôji Yakusho) para ajudá-la. E é em Tóquio que o círculo se fecha, já que o rifle que causa o acidente inicial foi presente do japonês ao marroquino, seu guia em uma temporada de caça.
Aparentemente desconexas, a costura das histórias é feita aos poucos, aumentando a expectativa dos próximos acontecimentos e mostrando a cara desse tecido da vida cuidadosa e maestralmente construído. Susan e Richard nem sabem, mas dependem desse acidente para reinventar a relação e sanar as feridas do passado; Cheiko precisa se encontrar e mostrar sua afetividade para não fazer escolhas que a levem para o mau caminho; Amélia é imigrante ilegal, viaja com o sobrinho (Gael García Bernal, também em Diários de Motocicleta, Amores Brutos) que tem problemas na fronteira americana e coloca a vida dos filhos de Susan em perigo; os marroquinos sofrem com a questão do terrorismo árabe, retratando a vivência dos povos do deserto, da religião muçulmana e da diferença extrema de estilos de vidas nos três cantos do planeta.
Babel é emocionante e eletrizante. Trata de assuntos como imigração ilegal, auto-afirmação da adolescência, dificuldades do casamento, preconceito, terrorismo, solidão causada pela deficiência física. A amarração é perfeita. Nos tempos das mil e uma mídias, nada mais atual do que mostrar como as vidas se mesclam, sem que consigamos perceber.
Veja também os outros filmes do diretor mexicano Iñárritu: Amores Brutos, 21 Gramas e Biutiful.
Comentários