ATÉ A ETERNIDADE – Les Petits Mouchoirs
Opinião
Algo a mais faz este filme ser especial. Talvez seja a cumplicidade que os atores tenham na vida real. São amigos de fato, o diretor Guillaume Canet é casado com Marion Cotillard, François Cluzet e Valérie Bonneton eram marido e mulher. Claro, muda tudo, já que o filme nada mais é do que um retrato das intimidades da amizade, dos perigos e acertos que isso implica, de como o tempo dá conta de criar cumplicidade e ao mesmo tempo encobrir pequenas e perigosas mentiras.
E por falar em mentiras, o título em português foge do que foi pensado originalmente. Em francês “Les Petits Mouchoirs” refere-se à parte da expressão que equivaleria à nossa “colocar sujeira embaixo do tapete”, ou “Little White Lies”, título escolhido para a versão inglesa. Em português, Até a Eternidade remete à amizade do grupo, mas deixa de lado essa sutileza que é abordada o tempo todo em que os amigos se reúnem, trazendo à tona as fraquezas, mentiras, excessos que o tempo foi escondendo. E que são, a bem dizer, o motor desta linda e emocionante produção, dirigida com muita sensibilidade e cuidado por Guillaume Canet (ator em Apenas uma Noite, O Último Voo).
O tema é conhecido: amigos de longa data fazem tudo juntos, têm muita história para contar e passam sempre uma temporada de verão na casa de praia de Max (François Cluzet, também em Paris), casado com Vero (Valérie Bonneton, também em Adeus, Primeiro Amor, Horas de Verão). Neste verão específico, resolvem ir, mesmo depois de Ludo (Jean Dujardin, também em O Artista) sofrer um grave acidente. No momento de fraqueza, dor e ansiedade, a roupa suja é lavada e as relação se transformam para sempre.
Quem brilha é Marie (Marion Cotillard, também em Contágio, Meia-Noite em Paris, A Origem, Nine, O Último Voo, Piaf – Um Hino ao Amor), com suas questões e dramaticidade pessoais, ao lado de seus amigos que enfrentam as incertezas e mudanças que veem com a idade e com as diferentes fases da vida, e que muitas vezes precisam de um fato traumático para serem aceitas. O título Até a Eternidade realmente não tem charme algum. Mas o filme é envolvente do começo ao fim, fala para todos nós e com todos nós, sem exceção. E toca fundo. Quem não se identificar que jogue a primeira pedra.
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