AS ÓRFÃS DA RAINHA

Cartaz do filme AS ÓRFÃS DA RAINHA

Opinião

Sou cristã-nova e isso é uma novidade. Há pouco tempo ficou comprovado que meus antepassados, gente lá do século 16, fugiu de Portugal tentando escapar da fogueira. Ou melhor, da Inquisição. Eram judeus e meus parentes, assim como tantos outros tentaram encontrar outro lugar no mundo para viver e praticar sua religião em paz, longe da perseguição insana da Igreja Católica — que considerava herege todo aquele que não acreditasse e não praticasse seus dogmas. Uma loucura completa, esse Tribunal da Inquisição instituído por homens insanos e, esses sim, hereges. Passaram longe do mandamentos básicos que todo mundo sabe quais são.

Mas isso é conversa pra outro dia. O garimpo de hoje é afetivo nesse sentido. AS ÓRFÃS DA RAINHA, da diretora Elza Cataldo, nos tranporta para o século 16, mas é muito atual quando fala do universo feminino. Três irmãs órfãs portuguesas chegam ao Brasil colônia pra morar em Vila Morena e se casarem. Criadas pela rainha de Portugal, Leonor, Brites e Mécia passam por experiências diferentes, mas trazem na bagagem a tradição do catolicismo e a obrigatoriedade de serem exemplos para os nativos que vão precisar apagar sua cultura e se converter ao catolicismo considerado pelos portugueses a única religião possível nesse mundão de meu Deus. Caça aos hereges rolando solta na Europa, chega à Bahia um inquisidor pra descobrir quem pratica os rituais judeus à revelia dos mandos da Igreja e o julgamento está armado.

Uma cidade cenográfica foi construída pra trazer o ambiente daquele século, com figurino e caracterização cuidadosos. Um filme que faz esse mergulho num tempo que dialoga comigo, afinal esta é a minha raiz recém-comprovada. Uma chance de olhar pra esse momento tão apagado da nossa história.

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