ARCHITECTON

Cartaz do filme ARCHITECTON

Opinião

Especial para a 74ª Berlinale

“A ideia começou na pandemia, quando o único lugar que eu podia ir em Berlim era o Tempelhof Field, um espaço no meio da cidade em que não há nada construído”, disse o diretor Victor Kossakovsky do documentário ARCHITECTON — uma experiência de percepção de que aquilo que construímos reflete o mundo que queremos. Ele se refere a um dos maiores espaços urbanos abertos do mundo, antigo campo de pouso. “Nada foi construído ali para que permanecesse o vazio e isso é inacreditável.” Daí surge a necessidade de falar do uso indevida da arquitetura nos fazendo desserviço.

“No último ano, produzimos cimento suficiente pra construir um muro de mil metros, com um metro de espessura, ao redor do mundo na linha do Equador. Temos que usar cimento, mas o fazemos de forma desmesurada. Temos que acordar!”  disse Kossakovsky. Como bem disse ele, este é um documentário-arte e não jornalismo — uma linguagem poética e visual que suscita não só a experiência da imagem e da trilha juntas, seus vários pontos de vista, mas também uma importante reflexão.

ARCHITECTON não é só sobre a construção de estruturas e prédios, mas também sobre o papel da arquitetura no mundo para que ela trabalhe a favor da manutenção da vida nas suas diversas formas. Com o arquiteto italiano Michele De Lucchi, as imagens sugerem uma reflexão impactante sobre o colapso não só da estrutura física que empobrece visualmente os espaços e não deixa vazios em que a natureza possa existir nas cidades, mas também sobre o colapso da nossa civilização com políticas perversas, ocupação desgovernada e interesse econômico acima de qualquer coisa. Uma beleza de documentário sobre construção e destruição — e sobre a vida perdendo de lavada.

 

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