APOCALIPSE NOS TRÓPICOS

Cartaz do filme APOCALIPSE NOS TRÓPICOS

Opinião

Acompanhamos esta história recente do Brasil, que parece não ter fim. O que a diretora Petra Costa faz em APOCALIPSE NOS TRÓPICOS, exibido fora de competição no Festival de Veneza, é explicar o que já está bem visível. Basta só querer enxergar. A crescente e assustadora influência da bancada evangélica na política brasileira faz com que deputados e senadores precisem ter uma fé pra chamar de sua. Assim, garantem uma fatia do poder de barganha, abençoam cadeiras do Congresso Nacional, organizam atos evangelizadores na casa e colocam tudo mas mãos de Jesus.

Sobrou pra ele — o que é no mínimo estranho porque o Brasil é laico, afinal de contas. Deveria. Petra, que também é diretora de Democracia em Vertigem, mostra os bastidores dessa lógica das igrejas evangélicas, seus pastores, seus fieis e a crença de que a política está nas mãos de Jesus. Basta acreditar e rezar. Na prática, o documentário forma a linha do tempo mostrando o crescimento, desde os anos 1970, desta linha evangélica na política. Acompanha de perto a trajetória do pastor Silas Malafaia, sua retórica, estratégia e contundência na tomada de decisão pra influenciar a eleição de Bolsonaro e como esta rede se ramifica em diversos setores da sociedade.

APOCALIPSE NOS TRÓPICOS tem esse nome porque é justamente isso que a bancada evangélica prega: com reza, o Brasil sai do buraco e consegue driblar o apocalipse que vai chegar. Parece irônico, mas pra uma parcela assustadora da população, confiar às cegas nessa teoria de poder impressiona. E, pra quem é brasileiro e acompanha minimamente o que acontece no Planalto Central, o filme é uma compilação do que temos vivido nos últimos anos; pra quem não é, causa impacto nada desprezível. Com depoimentos de Bolsonaro, Lula, Malafaia entre outros, é um importante registro pra pensar que opção temos daqui pra frente.

 

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