ANOTHER END

Opinião
Especial para a 74ª Berlinale
Se existisse a possibilidade de inserir a memória de uma pessoa que já morreu em outro corpo, conviver com ela por mais um curto espaço de tempo pra poder se despedir e processar o luto, você faria isso? Gael García Bernal faz o papel de Sal em ANOTHER END, um homem angústiado com a morte da esposa e com o fato de não ter dito a ela tudo que queria, ou de não ter tido a chance de fazer as coisas diferentes. E essa pergunta foi feita a ele na entrevista coletiva na Berlinale. A resposta foi: “não, mas mesmo se fizesse, não contaria pra ninguém”.
Lembrei disso porque ANOTHER END discute a questão da memória, mas também a matéria em que o amor é construído. Nos apegamos a alguém pelo que esta pessoa é internamente, ou também pela sua representação física? Ambientada num futuro próximo, a narrativa conta a história de uma empresa científica que possibilita que uma pessoa seja paga para ser “hospedeiro” da memória de alguém que morreu, por algum tempo a mais. A ideia não é substituir a pessoa, mas de dar a chance a quem sofre a perda de se retratar, se despedir, fazer as coisas diferentes. Zoe (Renate Reinsve) é a esposa que morreu e tudo é facilitado porque a irmã de Sal (Bérénice Bejo) trabalha na empresa Another End.
Com a ideia de dar um outro fim ao relacionamento de pessoas que é interrompido pela morte, toca-se no tema que tanto angustia as pessoas quando a morte é repentina. Poderia ter feito diferente? Disse tudo que queria? Contei como me sentia? Fui bom ouvinte? A reflexão é pertinente e pode acontecer com qualquer um. Piero Messina se embanana um pouco na construção do mecanismo da empresa, que vai dando pra história voltas que ela não precisava pra contar uma história de amor. Que, diga-se de passagem, tem uma boa química que a gente até esquece de pensar no desfecho.
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