ALÉM DA LIBERDADE – The Lady

Cartaz do filme ALÉM DA LIBERDADE – The Lady

Opinião

Orquídea de Aço seria o melhor título. Tenho dito aqui e repito: essa coisa de optar por palavras teoricamente de apelo emocional (como “liberdade”, “felicidade”), tão comuns nos títulos dos filmes estrangeiros, produzem o efeito contrário. Enfraquecem o pôster (grande chamariz) e a narrativa, e caem no lugar comum.

Seria o melhor título, porque é assim que a ativista birmanesa Aung San Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, é conhecida. Filha do general Aung San, que comandou a libertação da Birmânia da ocupação inglesa e foi morto em 1947 pelos militares que tomaram o poder, Suu Kyi é a cara da Birmânia, atual Mianmar, no que tange a repressão política, o poder autoritário, a falta de liberdade. Orquídea de Aço se aplica à sua resistência pacífica durante os 21 anos em que sofreu violenta repressão, inspirada e amparada pelos princípios e ensinamentos de Gandhi. Portanto, apesar de o filme em si não ser uma obra-prima, produções como essas normalmente valem a pena. Fornecem informações interessantes e atuais sobre um país distante, mas sobre uma realidade muito comum e bem perto de nós.

Importante dizer isso antes de tocar no teor da produção e escolhas feitas pelo diretor francês Luc Bessson. Cada aspecto tem a sua importância e considero o teor histórico e documental (apensar, eu sei, de ter também situações fictícias, como sempre acontece) o mais rico – nem que seja só para se inteirar do assunto.

Dito isso, vamos ao filme em si. Suu Kyi (Michelle Yeoh) vai estudar em Oxford, onde conhece o professor Michael Aris (David Thewlis), casa-se e tem dois filhos. Volta para a Mianmar em 1988 para cuidar da mãe, quando se dá conta do caos social, econômico e político em que o país está mergulhado. Sensibilizada, mobiliza seguidores para formar a força de oposição e lutar pela democracia no país. Sem querer que Suu Kyi vire mártir, o governo decreta sua prisão domiciliar em 1989. Até ser inteiramente revogada em 2010, graças à forte pressão internacional, Suu Kyi passa esses 21 anos sem poder sair do país, totalmente cerceada, sendo que a maior parte do tempo é vivida em prisão domiciliar. Em abril deste ano foi eleita deputada e só conseguiu sair de Mianmar em junho deste ano – mais uma razão para assistir ao filme e se manter atualizado com o que acontece no mundo.

De modo geral, Além da Liberdade me manteve entretida e interessada durante todo o tempo. A personagem de Suu Kyi assume a postura e atitude pacifista, enfrentando seus opositores violentos com orquídeas, abrindo mão do convívio familiar para lutar pela causa. Apesar da força que sabemos que ela tem, no filme quem comanda é seu marido Michael, na pele de David Thewlis. Ele tem um papel mais dramático e rouba a cena em diversas ocasiões. Claro que o filme poderia ter se aprofundado mais, ainda mais considerando o peso, a importância e a história da persoangem, mas a pincelada é boa, nos dá uma noção interessante sobre um personagem histórico espetacular. Esse é o grande trunfo da história. Para entender o nosso mundo, claro. Ou entender cada vez menos.

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