AGNUS DEI – Les Innocentes
Opinião
Gosto mais do titulo do filme no original de Agnus Dei, que seria traduzido como As Inocentes. Porque esse é o enfoque do filme: contar como freiras inocentes, que viviam tranquilas no convento na Polônia antes da Segunda Guerra, enfrentam o trauma e as consequências do estupro coletivo praticado pelos soldados russos. Muitas delas estão grávidas e não têm qualquer culpa no cartório. São inocentes – em relação à violência, à vida. Anne Fontaine, a diretora, faz questão de lidar com isso de maneira singela e forte: trata não do trauma, nem da revolta, mas da solidariedade e da solução de problemas. E aqui, a palavra inocência ganha ainda mais importância: a ingenuidade da vida religiosa isolada e protegida, transforma-se em presença, atitude e coragem.
Agnus Dei me remete mais à sacrifício, afinal, é o que chamamos de “cordeiro de Deus”. Claro que há perdas, inerente a qualquer ato de violência. Mas o filme caminha para um sentido fraterno da vida e das opções pelos caminhos mais difíceis, porém bem mais significativos. Na Polônia do pós-guerra, as freiras sofrem no convento sem assistência médica, temem represália do governo socialista e preferem calar-se. Muitas morrem no parto, assim como seus bebês. Até que uma delas recorre à médica francesa da Cruz Vermelha, que descumpre as regras e atende, escondido, às jovens assustadas e angustiadas pela profunda dor.
Além de lindo esteticamente, Agnus Dei tem uma nobreza de espírito. Lida com a solidariedade e a recuperação da alma, com a valorização da ajuda mútua e com o poder de transformação que tem uma decisão importante de doação e altruísmo. Mesmo que, para isso, sacrifícios sejam feitos. O que sempre acontece. Não há ganhos sem perdas – mas, muitas vezes, os benefícios são tão mais preciosos, que a noção do sacrifício se dilui. Fica só gratidão – como vemos estampado no rosto de todas elas e na foto final do filme.
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