A VOZ HUMANA – The Human Voice

Opinião
Não há limites para a repetição de uma cena de desamparo amoroso. Pedro Almodóvar inova no formato média-metragem, mas volta na temática que, com releituras aqui e ali, sempre rende um novo olhar. A VOZ HUMANA teve sua estreia em Veneza é o primeiro projeto em inglês do diretor. Escolher Tilda Swinton já é um convite para mergulhar no drama humano universal e único ao mesmo tempo.
Único porque ninguém lê como Almodóvar. Aliás, é este mesmo monólogo A VOZ HUMANA, do dramaturgo, roteirista, ator, diretor, poeta francês Jean Cocteau, que inspirou seu primeiro grande filme, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988). Conta a história de uma mulher que vive um momento crítico: foi deixada pelo amor da sua vida, espera que ele passe pra pegar suas malas (que ela fez!) e que telefone. Ele telefona e é com essa voz humana que ela conversa, cheia de ansiedade e angústia.
Almodóvar revisita esse lugar comum das relações humanas, mas ninguém lê a vida como ele. Repare na cenografia, nos móveis de design da sala, no ladrilho hidráulico da cozinha; nas cores e nos quadros; nas luminárias e no cachorro; no figurino, no perfume Número 5 e em Tilda – essa atriz que também é única, que por si só confere personalidade (assim como Carmem Maura em Mulheres À Beira...) a essa mulher, que é universal, que sofre mas decide. E se posiciona decididamente à beira de um ataque, na linha de chegada de volta ao controle.
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