A PEDRA DE PACIÊNCIA – Pierre de Patience
Opinião
Quem quiser fugir do lugar comum e assistir a algo que realmente está fora do nosso alcance cultural, A Pedra de Paciência vai direto nesse ponto. No ponto do desconhecido, do inaceitável, do incompreensível. Muito se tem falado (mas não o suficiente) sobre a condição da mulher afegã nas sociedades fechadas, machistas, tradicionalistas e extremamente radicais. Em que os casamentos são arranjados, em que a mulher veste burca, em que maridos, irmãos e pais coordenam sua vida como mercadorias. É o que são. Mercadorias, manipuladas em meio à guerrilha que nunca termina.
Sobre o Afeganistão, vale ver também A Caminho de Kandahar, Às Cinco da Tarde e Wajma. Dão apenas uma ideia do que deve se a vida das mulheres neste lugar. A Pedra de Paciência tem um toque poético dramático, reúne todas as mazelas em uma só personagem e ninguém sai do filme ileso. A bela protagonista (Golshifteh Farahani, também de Procurando Elly) é uma dona de casa, que foi obrigada a casar com um homem bem mais velho ainda adolescente. Herói da guerra jihadista, é ferido no pescoço e fica em coma. Embora nunca tenha tido relação de amor e afeto com ele, opta por não abandoná-lo, embora a vila esteja em guerra.
Com o marido em coma, a esposa tem que ser reinventar para sustentar as filhas e seu contato com alguém que já não manda mais nela, permite que ela fale sobre ela, seu passado, suas decisões, medos e prazeres. Ficamos sabendo, ao mesmo tempo que o marido, de coisas jamais sonhadas nesse mundo muçulmano extremista. A Pedra de Paciência é uma metáfora do exercício da fala e da escuta da palavra, do diálogo – ou monólogo. Feminino e humanista ao mesmo tempo, faz parar para pensar e emociona. Também porque é real e filmado com uma veracidade de sentimentos e linguagem impressionantes.
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