A PELE QUE HABITO – La Piel Que Habito

Cartaz do filme A PELE QUE HABITO – La Piel Que Habito

Opinião

Assistir a Pedro Almodóvar merece atenção extra. O convite é para espantar as expectativas, livrar-se dos conceitos, ideias fechadas e pré-concebidas. Um esforço que vale a pena, e a possibilidade de entrar na viagem e na trajetória da narrativa do diretor espanhol fica bem maior. Com A Pele Que Habito, ele vai, novamente, por um universo único, mais fascinante ainda se lido nas entrelinhas.

Da última vez, Almodóvar fez uma homenagem ao cinema com Abraços Partidos – com fortes semelhanças com os excelentes anteriores Tudo Sobre Minha MãeFale com Ela e Volver. Todos femininos na essência. Desta vez, o lado masculino é preponderante, na figura de Antonio Banderas como Robert Ledgard. Renomado e genial cirurgião plástico, ele mantém um centro cirúrgico dentro de sua casa em Toledo, na Espanha, e faz pesquisas para desenvolver uma pele que possa ser transplantada em pacientes queimados ou gravemente acidentados. A pesquisa transcende o meio científico e acadêmico e entra na seara pessoal, na obsessão, na cura de um passado cheio de traumas e perdas. Como tudo em Almodóvar, os elementos e personagens se cruzam de uma maneira forte, instigante e desta vez, mórbida, visceral, vingativa.

Parece tudo muito vago. E é, também no filme. Ao mesmo tempo em que percebemos o olhar obcecado do Dr. Robert, não sabemos qual a sua real intenção – além de criar a tal da pele artificial. Tem uma relação de dependência com o voyeurismo (observa, controla Vera como ninguém), deixando evidente a relação de posse do corpo, da vontade, do sexo. Como sempre disseca (aqui literalmente) o lado sexual, as relações viscerais, questionando quem realmente é a pessoa que habita cada um dos corpos que vemos por aí. É quem pretende ser, quem os outros esperam que seja, quem realmente é? Tudo ainda vago, eu sei. É preciso assistir a este Almodóvar para entender. Mesmo porque, como espectador, você só vai começar a ligar os pontos depois que muita coisa já aconteceu, muita violência já ficou implícita e explícita, muita crise de identidade já se instalou na telona.

Muita gente diz que o diretor espanhol não se renova, que o formato é sempre o mesmo. Almodóvar imprime seu estilo, mas sabe contar histórias como ninguém. A Pele Que Habito tem algo novo, menos humorado e mais maquiavélico talvez, mas não menos espetacular. Não deixa ninguém sair ileso do cinema – o que senti é algo quase visceral mesmo, uma aflição que vem das entranhas. Além de Antonio Banderas, Marisa Paredes (também em Tudo Sobre Minha Mãe) e Elena Anaya (também em Fale com Ela) estão incríveis – mas é o olhar e a loucura de Robert que dominam o filme e conduzem o destino de Marília, Vera e Vicente (Jan Cornet). Bem à sua maneira. Eu é que não queria estar na pele deles.

 

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