Opinião

O cinema americano independente, quando acerta no tom, é um deleite. Um prazer pelos diálogos inteligentes e sagazes, pela espontaneidade dos personagens, pela intimidade que a direção consegue estabelecer com o espectador. Fica tudo muito próximo e sinto sempre que os personagens poderiam ser meus amigos.

Mesmo se esquisitos. É como se o roteiro trouxesse elementos pessoais pra história, coisa de gente comum como você e eu. Fica fácil se imaginar ali. Mesmo porque, vira e mexe nesses filmes diretor é também o roteirista, que é também o protagonista. Ou seja: tá todo mundo em casa.

Tudo isso pra dizer que TWINLESS: UM GÊMEO A MENOS tem James Sweeney nesse papel triplo — e conta uma história com corpo, alma e uma boa dose de humor. Roman e Rocky são gêmeos idênticos; Rocky morre e o irmão fica sem rumo. Procura ajuda  um grupo de apoio só para gêmeos enlutados, ou seja, para quem perdeu seu irmão gêmeo. Roman e fica amigo de Dennis, que também está vivendo o luto da perda do seu cara-metade.

O que começa com uma amizade vai se abrindo pra surpresas que recheiam a história de situações inusitadas, com personagens que entregam uma experiência diferente, íntima. São pessoas imperfeitas e despojadas, que não têm medo de mostrar vulnerabilidades. Nem uma certa desfaçatez. Que pode beirar o mau caráter, mas mais parece um certo cinismo. Tudo corrobora pra construir um filme que diverte e emociona, com o pano de fundo da vida como ela é quando a cara metade igual a você desaparece deste mundo.