MEMÓRIAS DE UM CARACOL – MEMOIR OF A SNAIL

Cartaz do filme MEMÓRIAS DE UM CARACOL – MEMOIR OF A SNAIL

Opinião

A informação de que MEMÓRIAS DE UM CARACOL não é uma animação pra crianças tem que estar logo aqui, no começo. Porque ela, a informação, inclusive, é o começo de tudo. Com indicação etária de 14 anos, já sinaliza que o assunto é adulto, muito embora crianças também passem pelo que passa Grace Pudel, uma garota que tem uma história de vida pra lá de sofrida, que coleciona caracóis e ama livros, e que vai encontrar em alguém, que é o seu oposto, uma possibilidade de mudança.

Criança passa por que passa Grace: bullying, depressão, ansiedade, luto, relacionamentos tóxicos, homofobia, obesidade; mas a animação de Adam Elliot, que também criou Mary e Max: Uma Amizade Diferente, aborda outros temas espinhosos como extremismo religioso, sexo, nudez, etarismo. Não é pouca coisa. Mas mesmo tendo tantos assuntos embutidos na simbologia desses caracóis, que formam uma enorme e impressionante coleção, a história da pequena Grace não é confusa. É clara, atual e pra lá de humana, o que faz com que se conecte muito facilmente.

Muito embora estejamos falando de bonecos animados. Em Memórias de um Caracol, o diretor usa a técnica stop motion — aquela em que tudo é construído de massinha, pintado, animado e filmado pra ganhar movimento —, mas é fácil os adultos nomearem as emoções e se identificarem com o que Grace sente. Vinda de uma família disfuncional, perde a mãe, se separa do irmão gêmeo e perde o chão. É a amizade com Pink, uma senhora pra lá de descolada e cheia de alegria de viver, que a conexão com o mundo exterior pode ser possível. Pink é rosa, claro, e tudo ao redor tem tons amarronzados. Uma sobriedade que a temática pede, mas não desprovida de sutilezas, delicadeza e detalhes.

Por sinal, uma riqueza imensa detalhes compõem o mundo da Grace. Sem esperar que ninguém tire da cartola uma fórmula mágica para resolver seus problemas (o que é um entendimento adulto), entende que precisa aprender como o mundo funciona e encontrar suas próprias ferramentas internas para se tranquilizar. O caracol tem essa metáfora quando sinaliza a perda, já que a mãe morre logo após o nascimento dos filhotes, quando fala da introspecção, já que a concha é o a própria simbologia da timidez e do casulo interno, e quando sabemos que caracóis não percorrem os mesmos caminhos. Andam sempre pra frente, assim como Grace precisa fazer. Um dia após o outro; mesmo que seja devagar, andar pra frente é preciso. Pink que o diga!

**  Melhor Filme no Festival de Annecy e Melhor Direção na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo; indicada ao Oscar e Globo de Ouro de  Melhor Filme de Animação, e vencedora de mais de 70 prêmios internacionais.

 

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