HOLY ELECTRICITY
Opinião
Vencedor do Leopardo de Ouro no Festival de Locarno em 2024, HOLY ELECTRICITY é filme de gente comum e tem um tom documental quando registra o movimento natural das ruas, mercados, residências. É daqueles filmes que nos levam para um submundo que não conhecemos, mas imaginamos que não tenha mais nada ali além de gangues, crime organizado e violência.
Mais um filme que propõe deixar de lado a ignorância e enxergar com outra lente. Quando o jovem Gonga fica órfão, quem passa a cuidar dele é o primo, o Bart. Juntos eles garimpam peças no ferro velho, compram antiguidades de procedência (e gosto) duvidosos pra revender e sobreviver. Até que um dia encontram uma mala cheia de cruzes e têm a brilhante (literalmente) ideia de transformá-las em crucifixos de neon pra revender. Num país extremamente religioso, pareceu uma ótima maneira de ganhar uma grana. E a façanha rende o título do filme: santa eletricidade.
O que o diretor Tato Kotetishvili faz é trazer o dia a dia de Tbilisi, no seu ambiente mais undergroud. E por submundo, entende-se também uma produção de baixo orçamento, num país em que fazer cinema é perigoso. E o perigo aqui é ainda maior: o ator Nikolo Ghviashvili é homem trans e traz esta questão pro filme falando sobre sua situação atual. Na coletiva de imprensa, ele contou que teve seu pedido de cirurgia de redesignação sexual negado e que teve que sair do país.
Ex-república soviética, a Geórgia está alinhada com Moscou e aprova a chamada “lei russa”, que proíbe qualquer manifestação ou simbologia LGBTQIA+. Na Geórgia, homens e mulheres trans são perseguidos e mortos, não têm direito à medicação, trabalho, estudo. Filmes assim são importantes: uma história bem humorada sobre afeto e amizade nos convida a conhecer um pouco mais deste país tão distante. Mas, olha, essa questão da violência contra pessoas trans faz eco no Brasil também e não é algo tão distante assim…
Comentários