ARCADIA – ARKADIJA

Cartaz do filme ARCADIA – ARKADIJA

Opinião

O termo ARCADIA vem do grego e está relacionado com a noção de uma natureza harmônica e esplendorosa. Era uma antiga província na Grécia, mas depois passou a representar um lugar imaginário para escritores e poetas. Algo como o paraíso idealizado, onde reina a natureza em perfeita harmonia com a comunidade de pastores. Mas a ARCADIA, do grego Yorgos Zois, passa longe desta definição e, é claro, que transborda ironia: pensar quem morre vai para o paraíso é o caminho trilhado pelo diretor pra nos dizer que os mortos se sentem assombrados pelos vivos. E não vice-versa.

Sim. Se você tem medo de alma penada, fantasma, ou qualquer outra coisa que possa explicar o “formato” dos mortos e sua “presença” entre os vivos, atenção. A proposta aqui é intrigante: quem morre quer ir, mas os vivos não largam esta pessoa. Seu sofrimento a mantém por perto a ponto de ser uma assombração para an alma que quer, definitivamente, partir e descansar.

Tudo gira em torno de um casal de médicos que foi chamado para reconhecer o corpo de uma pessoa morta em um acidente. A gente não sabe quem é a princípio, mas aos poucos vai se descortinando um panorama no mínimo estranho. É no pub chamado Arcadia que vamos nos dando conta do raciocínio do diretor, que foca nos sapatos dos personagens pra falar da presença real no mundo dos vivos. “Os sapatos dizem muito sobre como escolhemos caminhar nesta vida”, disse ele na coletiva. “É ele que nos conecta com a Terra. Pra mim, um sapato sem um corpo é sinal de que alguém já não está mais aqui e precisa poder partir”.

No fundo, é uma negociação com a perda; é livrar-se dessa carga e construir a memória. Mesmo que ela seja, por definição, uma ficção. Aliás, o que é a vida senão uma grande ficção? Num clima de cores frias, predominantemente azulado, Arcadia foge do que se espera da Grécia: vai pra montanhas, tem tempo nublado e frio, e humanos que não estão longe de serem feitos à imagem e semelhança de deuses gregos.

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