TEMPOS DE PAZ
Opinião
“Nunca imaginei que coisas tão terríveis pudessem ser ditas em português…”
Quando assisti o trailer do filme, parecia déjà vue. De fato, o filme é uma releitura para a telona da peça Novas Diretrizes em Tempos de Paz, encenada pela mesma dupla Tony Ramos e Dan Stulbach, em 2001. E parece repeteco: ao sair do cinema, tem-se a impressão de que aquilo era teatro. E como a história é um tributo justamente ao teatro, a sensação fica ainda mais forte.
É um tributo ao teatro e à arte em geral perpetuada pelos estrangeiros que escolheram o Brasil como segunda pátria, fugindo da Segunda Guerra na Europa. Tudo isso personificado na figura de Dan Stulbach, o polonês Clausewistz que se diz agricultor e atraca na ainda capital federal Rio de Janeiro, em abril de 1945. Sua história cria desconfiança em Tony Ramos, que é Segismundo, torturador, agente alfandegário responsável pela entrada dos estrangeiros no país – frio e calculista.
Os diálogos entre os dois é que tecem o filme de fato. Os cenários são poucos e a maioria das cenas se passa na sala de interrogatório do setor de migração do porto do Rio – o que dá mais cara de teatro ainda. E são os diálogos que enriquecem o filme: constroem o polonês ator que fala português e não imaginava que essa língua pudesse dizer coisas terríveis; ao mesmo tempo desconstroem o torturador implacável, aquele que é imune à compaixão e que se rende à emoção do teatro e da arte.
Além de tudo isso – que vai tocar quem gosta de linguagem, das minúcias e entranhas da língua portuguesa, diga-se de passagem muito bem avaliadas pelo polonês – o filme mostra o momento histórico do Brasil, a anistia aos comunistas, as regras e porões da ditadura Vargas e os frutos que o país colheu e continua colhendo pela acolhida aos estrangeiros em tempos de guerra.
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