GLORIA
Opinião
Depois de dez minutos de filme, vários outros me vieram à cabeça. Logo de cara dá pra perceber que GLORIA não é só a protagonista, mas é a história propriamente dita. Assim como ela, outras tantas mulheres maduras, imagino que na casa dos 50 e 60 anos, sentiram vontade – e necessidade – de se reinventar, de encontrar um companheiro, de renovar o casamento e de viver a própria vida. Lembrei do recente (e lindo) francês Os Belos Dias e do inesquecível inglês Shirley Valentine. Gloria é mais uma dessas mulheres, referendando uma trajetória universal, de uma mulher comum, mas de uma presença incrível.
A chilena Paulina García faturou o Urso de Prata em Berlim por seu personagem. Divorciada há 12 anos, Gloria é independente financeiramente, mas solitária. Os filhos levam sua vida, não querem muito envolvimento e ela busca companhia nas festas para solteiros. Conhece Rodolfo, um senhor que se diz recém separado, mas que ainda é manipulado pelas dependentes filhas e ex-mulher e parece não querer, no fundo, mudar de vida.
O filme é um retrato de uma fase da vida de Gloria, que tenta basicamente ser feliz e parar de viver a vida dos outros. Sem complicar, pelo contrário. É divertida, espirituosa, consegue correr riscos, não fica remoendo o passado. Tem alto astral, por assim dizer. Sem ter nada de especial ou inusitado (pelo contrário, fala da vida de gente como eu e você), Gloria é sensível e sensato, profundo e objetivo. Não é daqueles filmes reflexivos, mesmo porque Gloria não perde tempo analisando sua vida. Vai à luta, procura os filhos, demonstra afeto, busca companhia, entrega-se de coração e com prazer. Mas Paulina García consegue construir um personagem completo, que preenche a tela e diz a que veio. Vide a última cena. Se fosse resumir em uma palavra, eu diria que é um filme de descoberta.
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