THERESE D. – Thérèse Desqueyroux
Opinião
Emmanuelle Riva, a atriz do premiado Amor, já viveu dias de Therese D. Foi em 1962, quando o romance de François Mauriac foi filmado pela primeira vez. Seu marido era nada mais, nada menos do que Philippe Noiret, o eterno Neruda de O Carteiro e O Poeta e Alfredo, de Cinema Paradiso. Nada mal, a dupla.
Agora quem vive a figura de Therese D., uma aristocrata completamente dentro do perfil feminino da proprietária de terra e herdeira de fortunas na França dos anos 1920, é Audrey Tautou. Submissa, respeitosa, obediente. Aceita casamento arranjado com o filho do vizinho fazendeiro, para assim perpetuar o poderio. Mas no fundo, Therese não se conforma e enlouquece dar uma solução no mínimo diferente para tudo isso.
Inspirado no romance escrito em 1952, toda a beleza estética do filme trabalha a favor da crítica à burguesia, às regras, à hipocrisia da alta sociedade que quer conservar seus lugares a todo custo. Inclusive sacrificando a amizade, o desejo pessoal, as habilidades individuais. Therese é criada como uma mulher do campo, sujeita às prioridades masculinas e financeiras. Mas quer viver na cidade, quer ser quem ela ainda não descobriu que é. Quer que seu marido Bernard (Gilles Lellouche, também em Até a Eternidade) tire e destrua todas as ideias ‘perigosas’ que ela tem na cabeça.
A trajetória de Therese é contada com todo rigor da construção de época, mas sem tanta força quanto imaginava que teria Audrey Tautou. Famosa pelo lindo e criativo O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Audrey Tautou parece que vai no piloto automático de uma história, que já diz tudo por si só. Tem beleza, mas falta emoção; tem boa história, mas falta presença. Parece até injustiça dizer isso, mas o que acontece com atores marcantes é essa alta expectativa que despertam quando aparecem em papéis importantes. Gosto mais de Audrey em Coco Antes de Chanel, e até em comédias românticas como Uma Doce Mentira, por exemplo. E claro, nos antigos Albergue Espanhol e Bonecas Russas. Injusta, eu? Pode ser. Mas seu personagem poderia ter mais força, ser mais audacioso. Audácia do tamanho da sua ousadia e coragem.
Vale dizer que Mauriac escreveu o romance com base em uma notícia publicada em 1927. Não sei bem o teor do caso real, mas seja lá qual foi, Therese teve uma boa má ideia para mudar o rumo da sua vida. E ainda deu sorte: a justiça não funcionou. Se você for amante dos filmes de época, não dê muita bola para comentários sobre minha expectativa com relação à Audrey Tautou. Mas confesso que acabo de colocá-lo na prateleira dos bonitos-filmes-de-época. Nada como o realmente emocionante Ligações Perigosas. Quem se lembra?
Nos cinemas: 05 de abril
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