LAWRENCE DA ARÁBIA – Lawrence of Arabia
Opinião
Guardadas as devidas proporções – que fique bem claro – O Príncipe do Deserto me inspirou a rever o grande clássico Lawrence da Arábia. Esse sim, um épico, com quase quatro horas de duração, vendedor de 7 Oscar e uma paisagem do deserto como poucos filmes conseguiram fazer. Ou nenhum.
Também diretor de filmes como Dr. Jivago e Passagem para a Índia, David Lean constrói um retrato impecável da península arábica durante a Primeira Guerra Mundial, contando a história do oficial britânico que, cansado de executar tarefas no confortável e generoso escritório no Cairo, pede para atuar no campo. E, já naquele começo de século, atuar no campo no Oriente Médio era envolver-se num barril de pólvora. De um lado, as inúmeras tribos árabes rivais, violentas e ditatoriais por definição, disputavam terras e poder na península; de outro, os turcos que invadiam seus territórios, dominavam cidades e abriam caminho para anexá-los ao já enorme Império Otomano. Lawrence entra justamente nesse momento, em que os ingleses não queriam lutar contra os turcos, pois já combatiam na Europa, mas não desejavam o poder deles em uma região tão estratégica; e em que os árabes precisavam lutar contra um inimigo comum, e para isso precisavam colocar de lado seus interesses próprios e richas históricas.
Lawrence da Arábia ganha identidade árabe, agindo como conciliador e estrategista inglês para combater os turcos, graças à sua crença na revolta árabe e profundo conhecimento geográfico da região. Independente de sua controversa postura (que o filme não deixa claro, apenas sugere que tem dúvidas, inseguranças, que questiona sua missão em alguns momentos), é um fator determinante na reconquista da península pelas tribos nativas e sua direta negociação, daquele momento em diante, com os interesses ingleses e ocidentais.
Mesmo se você preferir não entrar nos detalhes dessas questões políticas e dos interesses particulares do Ocidente, fato é que Lawrence da Arábia é um clássico impressionante de cenas de batalhas entre tribos, viagens pelo deserto de fotografia impar. E mais: em se tratando de lutas tribais, de vingança e richas entre líderes, torna filmes como O Príncipe do Deserto algo novelesco e nada mais. Eu já tinha avisado – são propostas diferentes, não tem nem como comparar. Cada um no seu devido lugar.
Comentários