LIVRO – O MAGO

Cartaz do filme LIVRO – O MAGO
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Opinião

Caro Fernando:

Hoje eu completo sessenta anos. Meu plano era fazer o que sempre faço, e assim foi. (…) Por que lhe escrevo? Porque hoje, ao contrário de meus outros dias, tenho uma imensa vontade de voltar ao passado. Mas usando olhos que não são meus, e sim os daquele que teve acesso aos meus diários, aos meus amigos, aos meus inimigos, a todas as pessoas que fizeram parte da minha trajetória.

Não sei qual será a minha reação ao ler o que estará escrito ali. (…) E, no fundo, foi por esta razão que aceitei ter minha biografia escrita: para que eu pudesse descobrir outra face de mim mesmo. E isso me fará sentir mais livre.

Como qualquer escritor, sempre namorei a ideia de uma autobiografia. Mas é impossível escrever sobre si mesmo sem terminar justificando os erros e engrandecendo os acertos –  faz parte da natureza humana. Daí a ideia do seu livro ter sido aceita com tanta rapidez, mesmo sabendo que estou correndo o risco de ver reveladas coisas que, no meu entender, não são necessárias. Porque, se elas fazem parte da minha vida, precisam ver a luz do dia. Daí a minha decisão, de que em muitos momentos ao longo destes três anos eu me arrependi, de abrir os diários que escrevo desde que eu era adolescente.

Mesmo que eu não me reconheça no seu livro, sei que ali está uma parte de mim. (…) Qual seria o meu destino se eu não tivesse experimentado as coisas que vivi?

Paulo”

Esse é um trecho da carta escrita por Paulo Coelho ao seu biógrafo, Fernando Morais, no decorrer da produção do livro O Mago (Editora Planeta, 630 páginas), justamente no dia em que faz 60 anos. Alguns meses depois, ele alcança a marca dos 100 milhões de livros vendidos em todo o mundo. Nada mau. Goste ou não do seu estilo, Paulo Coelho é reverenciado no mundo todo e tem uma vida muito, mas muito interessante.

Lembro-me da primeira vez que ouvi falar dele. Era 1989, eu tinha 19 anos, e alguém fez chegar em minhas mãos, na França, os dois primeiros sucessos, O Alquimista e O Diário de um Mago. Confesso que me tocaram: falavam de transformação, de busca do sonho de uma maneira simples e direta. Os outros, não li. Não me interessei e por isso não posso opinar. Mas não se trata aqui de falar dos livros de Paulo Coelho, mas do livro sobre ele. De como ele perseguiu obsessivamente o sonho de se tornar um escritor famoso no mundo todo; de como ele persuadiu Raul Seixas a deixar o terno e a gravata e investir na música, no álcool e nas drogas; de como suportou as internações psiquiátricas e as prisões no DOI-Codi; de como aprendeu a lidar com a rigidez dos pais e com os casamentos desfeitos; de como rejeitou a bruxaria e encontrou o seu caminho e o sucesso.

Vale a pena ler. Passa por anos importantes da história do Brasil e do mundo; passa por personalidades também descritas em outras obras (como no filme Zuzu Angel) e tantas outras; passa pelos hábitos e costumes de uma época. Goste ou não de Paulo Coelho, fato é que o sujeito viveu intensamente, tem e terá ainda muita história para contar.

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