WRONG

Cartaz do filme WRONG

Opinião

Comédia do absurdo – e isso não é para qualquer espectador. Interessante, porque é óbvio que Quentin Dupieux não dá ponto sem nó. Tem várias discussões embutidas nas maluquices por que passam os personagens, portanto é importante logo de cara dizer que não dá para assistir a Wrong sem ler na entrelinhas. Quem ficar na superfície, desconfiando que há algo errado e que o diretor é simplesmente esquisito, vai se encher logo, porque absolutamente tudo beira o absurdo e, às vezes, até o ridículo.

Tudo bem que é o ridículo proposital, irônico e crítico. Mas é preciso olhar com vontade de realmente ver que o que está errado pode ter algum sentido. Algumas coisas são mais claras, como quando o diretor fala sobre as relações superficiais entre as pessoas, quando a atendente da pizzaria se apaixona pela voz do cliente, larga o marido e resolve viver com ele, sem ao menos conhecê-lo; quando o charlatão vende um serviço inútil e Dolph consome porque está desesperado; quando o jardineiro resolve um problema, criando outro; quando chove sem parar dentro de um escritório e as pessoas trabalham encharcadas todos os dias; quando Dolph não quer admitir que foi despedido e continua frequentando o ambiente de trabalho. Todas as situações nos levam para a difícil arte de conviver.

Mas outras são mais tolas e, por vezes, desinteressantes. Há algo de podre – e errado – no reino dessa Dinamarca, mas não é algo que inspire grandes reflexões. Pelo menos não para mim. Filme típico de festival – inclusive foi indicado para o prêmio do júri do Festival de Sundance, famoso por esse perfil da produção alternativa e independente – vai agradar um público muito específico. Gosto desse tipo de linguagem, que camufla no cotidiano questões profundas de comportamento da nossa sociedade, fazendo com que  a gente se sinta bonecos manipulados pela vontade alheia. Mas prefiro o trabalho e a linguagem do cineasta Todd Solondz, de Felicidade e A Vida Durante a Guerra, e da cineasta Miranda July, de Futuro e Eu, Você e Todos Nós. Nesses dois casos, esse “teatro do absurdo”  é mais mais profundo, a ponto de incomodar, e muito. Surte mais efeito, se o objetivo é fazer parar a máquina da mesmice e pensar o comportamento. Dupieux fina em cima do muro, na linha tênue do discurso infantilizado e da crítica ácida. Saí achando tudo meio morno. E não achei isso um bom sinal.

Nos cinemas: 02 de agosto

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