VIPs

Cartaz do filme VIPs

Opinião

Tem gente que realmente tem história pra contar – ainda que não sejam invejáveis. Marcelo Nascimento da Rocha é um deles e sua história rendeu este filme. Baseado no livro VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso, de Mariana Caltabiano, VIPs é um bom filme, principalmente quando o ponto de partida é o absurdo da história em si e a histeria generalizada da nossa sociedade diante das celebridades – sejam elas de fato célebres ou não. Sem falar, é claro, que Wagner Moura (também em Tropa de Elite 2Carandiru) já é um chamariz e tanto. E não é para menos: ele é carismático, talentoso e camaleão. Faz bem qualquer papel. Vale dizer também que o roteirista é o competente Bráulio Mantovani, de ótimos filmes como Tropa de Elite 2Última Parada 174 Linha de Passe. Portanto, o enredo é amarrado, a história é boa e o filme, bem feito. E na medida para agradar ao grande público – o que não é um demérito, só uma constatação.

Antes de mentiroso e farsante, Marcelo era um sujeito sem rumo. Se a situação era mal resolvida com a mãe, que idolatrava os famosos, ou se ele se projetava no pai, que era piloto, não importa. Nada justifica a má índole do rapaz. Fato é que na fissura por pilotar aviões, uma mentira leva a outra e Marcelo vai criando personagens, incorporando novas identidades, até chegar ao ápice em Recife, quando se infiltrou no camarote de gente bacana, afirmando ser nada menos do que o herdeiro da companhia aérea Gol (isso tudo foi publicado na mídia em 2001). Ele enganou todo mundo, é verdade. Mas acho que o pior de tudo não é isso. O cúmulo do absurdo e da cegueira é terem acreditado. Como é possível? Um papelão para o Amaury Jr. (que o entrevistou na época e faz o papel dele mesmo no filme), para a polícia (que o prendeu como traficante), para as pessoas que aceitaram um argumento sem questionar. Aliás, a minha grande crítica a esse meio das celebridades é essa: a incapacidade de questionar, o comodismo da vantagem de mão beijada, o prazer da foto na revista de fofoca.

Desabafos à parte, acho que VIPs vai agradar – eu achei bem interessante. É dinâmico, mostra o Marcelo se transformando em Denis, Carrera, Constantino e Juliano – e ainda ficaram vários personagens de fora. Hoje ele cumpre pena na prisão, mas nem por isso deixa de ser um mentiroso profissional – mesmo preso, já passou por líder do PCC. Cara convincente. E com Wagner Moura no comando, a gente quase que acredita. Não acho (como dizem alguns críticos) que seja uma apologia ao crime, nem torci para que Marcelo-Juliano-Denis se desse bem. Acompanhei a trama com dois olhares: um da aventura, ousadia, criatividade e cara-de-pau do sujeito; outro do perigo da mentira, que leva o mentiroso a acreditar nela e ficar na dúvida sobre a sua própria identidade. Um prato cheio para quem quer discutir os meandros da personalidade humana e suas atitudes. Mas se você não tiver a fim de discutir nada, vale pela curiosidade e diversão.

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