VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO

Cartaz do filme VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO
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Opinião

Tem algumas paisagens que, de tão insólitas, falam por si só. Deserto é assim. Mesmo que não seja deserto de dunas, daqueles do nosso imaginário, é deserto do mesmo jeito. O que é o sertão nordestino brasileiro senão um deserto de almas e de vida? Uma metáfora da solidão humana, do deserto interior de cada um.

Resumidamente, foi isso que senti ao assistiro Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo. Apresentado no Festival de Veneza do ano passado, o filme é, literalmente, desértico. O protagonista (Irandhir Santos, também em Besouro) dá o ar da graça na sua voz e, raramente, na sua sombra. Seu rosto, não se vê. Mais uma face da impessoalidade do deserto, em que as vidas são reduzidas à miséria, à mediocridade que a natureza impõe, ao desejo impossível de se encontrar ali uma “vida-lazer”, como diz uma garota de programa da região.

Aqui, a voz de Irandhir Santos sai de Fortaleza, de onde deixa a mulher amada, e segue pelo interior nordestino a trabalho. A região será inundada por causa da transposição de um rio e ele, como geólogo, precisa fazer um mapeamento da área. No caminho, vai contando suas mazelas e as dores de quem encontra.

É uma ficção estilo road movie, embora muitas vezes tenha o formato de documentário. As imagens da estrada completamente deserta podem até cansar (e cansam, já aviso), mas achei que fazem parte dessa construção da solidão humana, da sensação de monotonia da vida, da crueldade da vida no sertão, da falta de perspectiva. No caso do protagonista, também da falta de amor, colocada em palavras através das músicas, das imagens, das frases dos banheiros de beira de estrada. Aliás, bela frase, essa do título.

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