TÃO FORTE E TÃO PERTO – Extremely Loud & Incredibly Close

Cartaz do filme TÃO FORTE E TÃO PERTO – Extremely Loud & Incredibly Close

Opinião

Assim como Hugo, de A Invenção de Hugo Cabret, Oskar Schell (Thomas Horn) também procura desesperadamente uma mensagem do pai. Assim como Hugo, Oskar perdeu o pai de forma trágica. O pai de Hugo morre num incêndio em Paris nos anos 1930; o pai de Oskar morre no atentado nas Torres Gêmeas em Nova York, em 11 de setembro de 2001. O pai de Hugo deixa um robô que escreve mensagens; o de Oskar deixa uma chave que deve abrir alguma caixa, cofre, porta, que por sua vez deve conter uma mensagem do pai e uma explicação pela sua morte. Independente das diferenças de circunstâncias, os dois personagens do cinema, Hugo e Oskar, trazem essa questão tocante do filho que vive uma relação de idolatria e companheirismo com o pai em plena adolescência, aquele tipo de relação mágica e heroica. Tirada sem aviso prévio, de sopetão, deixa-os sem referência, sem chão, totalmente inconformados com a perda da maior e mais importante imagem para um garoto nessa idade: a paterna. Fiz dobradinha dos dois filmes em dias seguidos e a força dessa relação, a dor dessa perda não me saiu da cabeça.

Tão Forte e Tão Perto vem do título original do livro Extremely Loud & Incredibly Close. O que é ‘tão forte e tão perto’? O título me intriga. A perda ou presença do pai? Fato é que, apesar das esquisitices de Oskar – menino curioso, criativo, inventivo e muito, muito inquieto – e da improvável situação do “caça ao tesouro” por  Nova York (que é simbólico, é claro), o filme tem situações interessantes de relacionamento pai e filho, de luto pela perda, da necessidade individual e específica de cada um de vivenciar a morte intensamente, para então conseguir superar a ausência.

O pai de Oskar, Thomas (Tom Hanks, também em Náufrago, Sintonia de Amor, Forrest Gump, Filadélfia, Larry Crowne – O Amor está de Volta) morre no atentado ao World Trade Center, comunica-se com o filho minutos antes de os prédios desabarem e desaparece da vida da família sem que o corpo fosse encontrado e velado. Inconformado, Oskar esconde as mensagens da secretária eletrônica deixadas pelo pai, sofre sozinho, sente-se culpado, distancia-se da mãe (Sandra Bullock, também em Crash – No Limite, Um Sonho Possível, A Proposta) e tenta, de qualquer maneira, encontrar uma explicação para a sua morte. A chave que encontra no closet do pai dentro de um envelope, com a enigmática inscrição “Black”, parece ser a salvação de tudo. Para isso, Oskar precisa encontrar o cofre, caixa ou fechadura que seja aberta por essa chave, para desvendar o mistério.

Essa busca é insana. Percorre os cinco distritos de Nova York para encontrar alguém que possa dar informações sobre esse tal “Black”, que possa conhecer seu pai, seus planos, seus desejos, algo que escapava pelos dedos do filho. Apoiado pela avó e seu inquilino, o ótimo, mudo e competente Max Von Sydow (concorre ao Oscar de ator coadjuvante), Oskar é muito convincente (embora cansativo, propositalmente) no papel desse garoto agitado e intenso, que precisa esgotar todas as possibilidades e tentativas para poder seguir adiante. Diretor também dos ótimos As Horas e O Leitor, Stephen Daldry consegue transmite uma pequena parcela do que deve ter sido a perda para essas famílias no 11 de setembro. E uma pequena parcela das histórias de coincidências e solidariedade entre as pessoas envolvidas na tragédia, nessa busca por explicar o inexplicável. Tão Forte e Tão Perto emociona pelo tema da perda do pai, sentida pelos olhos do filho adolescente e pela proximidade e realidade dos fatos. Claro que Nova York não se presta para a peregrinação que Oskar faz pelas ruas, nem essa mãe seria tão relapsa como parece ser Linda (Sandra Bullock) – digo ‘parece’, não se esqueça disso. Tão Forte e Tão Perto concorre ao Oscar de melhor filme, mas não era para tanto. Mas toca no tema recorrente do luto e do inconformismo com a morte prematura dos pais e a necessidade de imaginar a vida nessa ausência.

 

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