PATERSON

Cartaz do filme PATERSON

Opinião

Rotina é um troço engraçado. Tem gente que reclama, tem gente que torce pra viver na zona de conforto. Dá estabilidade, é verdade, mas corre o risco de levar ao marasmo, à mesmice, à falta de imaginação. Pode cair no vazio da privação dos desejos, da intimidade, da individualidade. Aí, rotina vira prisão e a zona de conforto passa a ser tão desconfortável que a gente quer fugir pela primeira porta aberta.

Pois bem, Paterson vive nela. Na zona de conforto. Tem uma vida pacata, é motorista de ônibus de uma pequena cidade de Paterson, onde conhece todo mundo, passa todos os dias nos mesmos lugares, sem expectativa de mudança. É casado com uma moça doce e criativa que, diferente dele, está sempre inventando moda – na cozinha, nas roupas, na decoração da casa. Ela é a dualidade, o contraponto dessa mesmice invade sua vida, mas que, ao mesmo tempo, confere à existência uma certa tranquilidade. O grande motor, capaz de transformar seu estado de espírito, mergulhar no profundo que é o sentimento, é a poesia. Paterson é poeta, mas não o típico boêmio, mas contido, individual, introspectivo. Uma inquietude que extravase através da escrita.

Paterson é, essencialmente, um recorte das repetições da vida. Tudo se repete e o diretor Jim Jarmusch, representante do cinema independente e autoral americano, também de Flores Partidas e Amantes Eternos, pontua isso com muita sutileza e inteligência: está no preto e branco, nos gêmeos, no nome Paterson. Pode ser tudo imaginação do personagem, sua fonte de inspiração para fugir da realidade – mas esse elemento fantástico fica por conta e risco de cada um. Isso também é bacana, não fecha numa ideia, abre possibilidades de reflexão. O que é, afinal, viver o dia a dia? Defintivamente repetitivo – a gente é que tem que tratar de dar a cor e tom.

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