OS INQUILINOS – Os Incomodados que se Retirem

Cartaz do filme OS INQUILINOS – Os Incomodados que se Retirem

Opinião

De novo o dia em que São Paulo parou, como disse Sergio Resende em seu filme Salve Geral, é inspiração para filme. Mas em Os Inquilinos, a trama é mais profunda, mais íntima e por isso ainda mais intimidante. Fala do interior das pessoas, do medo que se instala dentro da própria casa, do temor de que algo aconteça, do perigo iminente, da família que corre risco. É no personagem Valter (Marat Descartes, também em Trabalhar CansaEstamos Juntos2 Coelhos) que nos sentimos acuados dentro da nossa própria casa. Um retrato realista, sem romantismo nem vitimização, da periferia e da desigualdade social.

Durante o ataque do PCC à cidade de São Paulo em 2006, a família de Valter tem que conviver com a chegada de inquilinos novos, 3 rapazes que tumultuam o ambiente, trocam o dia pela noite, intimidam e ameaçam a tranquilidade do bairro com sua simples presença. A mulher e os filhos sentem a mudança na rotina, mas não o medo que Valter sente. Esse medo é só seu, incrementado pela instabilidade no trabalho por não ser registrado, pela dificuldade de ascensão social por não ter concluído os estudos, pela insegurança dentro da sua própria casa.

Os Inquilinos faz um retrato interessante da vida do trabalhador comum, que vive um suspense. É como se dissesse que o medo não existe só nas camadas mais altas, ameaçadas e cercadas de muros e alarmes. Ele existe dentro das pessoas como um todo. E Marat Descartes, esse ator competente em tudo que faz, é sempre um personagem complexo, inserido num contexto social perverso e cruel. Dá pra perceber o temor que Valter sente. Pura tortura psicológica. E a sua indignação – coisa que não notamos em Iara, sua esposa, e filhos, para quem a violência faz parte do contexto, da televisão, da vida em geral. Em que ponto chegamos… Nos acostumamos e nos cercamos.

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