Opinião

Apesar de ser um suspense, de ter assassinato e investigação policial, o diretor Juan José Campanella coloca as relações humanas num patamar elevado. O Segredos dos seus Olhos é um filme humano, essencialmente. E tem mais um detalhe: é sempre um prazer ver Ricardo Darín (também em Abutres), que já se tornou um símbolo da sensibilidade do cinema argentino atual. Desta vez, vale dizer que está muito bem acompanhado da atriz Soledad Villamil no papel de Irene – que apesar de ser estreante, tem presença e firmeza de sobra.

Darín está na pele de Benjamín Espósito, um funcionário público aposentado que resolve escrever um livro contando a história de um assassinato ocorrido há 25 anos, quando ele trabalhava no tribunal de Buenos Aires. Indo e voltando no tempo, o diretor constrói uma narrativa cheia de suspense, de belas imagens dos cafés argentinos, mas sobretudo recheada de emoções. Fala da força que tem uma obsessão, uma paixão exagerada por algo, uma ideia fixa, mas também da amizade fidedigna nas horas mais difíceis. Retrata a dificuldade de dizermos o que sentimos, a sensação de arrependimento pelo que não dissemos, a frustração pela escolha mal feita, a dificuldade de deixar o passado no passado, mas também mostra a certeza de poder começar de novo e olhar para o futuro.

Neste filme que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro, é como se a narrativa do assassinato e seus meandros fosse o pano de fundo de algo mais complexo e mais difícil de desvendar.