O SEGREDO DO GRÃO – La Graine et le Mulet

Cartaz do filme O SEGREDO DO GRÃO – La Graine et le Mulet

Opinião

César de Melhor Filme Francês em 2008; Prêmio especial do júri e da crítica no Festival de Veneza

Fico pensando o que pretendem os suíços quando proíbem os minaretes (torres de onde vem o chamado para a oração) nas mesquitas do país. É para fingir que são um povo uno e de raça pura? Que talvez assim se imagine uma Europa sem o islamismo ou qualquer outra raça ou religião? Ora, a Europa é multirracial. E ponto. O Segredo do Grão me fez lembrar essa estranha intervenção votada há duas semanas. Acho esquisito, ainda mais vinda da neutra Suíça. E digo mais: acho que não adianta nada.

Fiz essa referência porque o filme, de direção tunisiana e portanto africana, registra justamente a vida da França mediterrânea, o choque cultural que mescla francês e árabe, que fala do preconceito, da segregação, de uma cultura marginal que tenta se manter frente ao tradicionalismo e rigidez franceses.

Tudo isso através da família de imigrantes árabes na pequena cidade portuária de Sète, no sul da França. O patriarca Slimane Beiji tem 60 anos, perde o emprego e resolve abrir um restaurante. Com ajuda a jovem enteada Rym (a premiada Hafsia Herzi) e de toda a família, realiza seu sonho. O prato principal é o cuscuz, que tem como base os grãos de semolina. Daí a razão do “grão” no nome do filme, já que ele simboliza a luta pela sobrevivência da cultura árabe, que é o eixo de todo o enredo.

Mais uma vez senti a intensidade dos conflitos cotidianos. Principalmente no tom de voz e na câmera que repousa longamente em cada um dos personagens, passando a real sensação do cansaço que nos causam os conflitos do dia a dia. Parece documental, é até um pouco lento nesse aspecto. Mas imagino que queira ser verossímil. E consegue.

Mas essencialmente – e por isso vale a pena – fala de questões universais como o adultério, a falta de comunicação, o ciúme, a angústia, a alegria, a luta pela sobrevivência de culturas inferiorizadas. Da origem como se fosse um imã, da religião um elo, o ponto de partida para tudo. Tudo é tratado dentro do microcosmo dessa família, metade francesa, metade árabe. Estão bem marcados os casamentos estraçalhados e as crianças que sofrem com pais estressados; os imigrantes preteridos e os idosos sem cuidados; a realidade dos conjuntos habitacionais; a crueldade do jovem perante o idoso; o sentimento de ajuda mútua e de comunidade que une as diferenças. E isso não é próprio de nenhuma raça ou religião. Atinge a todos por igual.

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