O HOMEM DUPLICADO – Enemy

Cartaz do filme O HOMEM DUPLICADO – Enemy
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Opinião

Na orelha do livro homônimo de José Saramago, vai a pergunta que não quer calar: “O que você faria se descobrisse que tem uma sósia, alguém que é o seu retrato fiel, o mesmo rosto, o mesmo corpo, a mesma voz?”. Engraçado, à primeira vista; curioso, quando se pensa melhor; assustador, quando se dá conta de que o que se considera individual, único, exclusivo não é privilégio dos seres vivos. Somos também produção em série, produtos de uma sociedade uniformizada, tolhida e formatada segundo o mais poderoso dos poderes: a força da imagem.

E por aí vai: podemos enveredar para o papel fundamental da mídia e da informação na formação da nossa era; para a força da inserção no grupo, na maioria; para a importância de “fazer parte de algo”. O que teoricamente nos faria únicos, Saramago traz à tona como algo oposto, contrário e contraditório: a perda da identidade. Jake Gyllenhall, um pacato professor, um dia se vê em um filme, como coadjuvante. Intrigado, faz uma pesquisa para saber quem é aquele sujeito idêntico a ele. O encontro de opostos, o professor e o ator, confunde não só o espectador – confesso que já não sabia quem era quem – mas nos deixa com a sensação de que alguém é dissimulado. De que alguém sabe de algo; de que há algo sendo encoberto e de que jamais conseguiremos juntar as peças do quebra-cabeça. Eu não consegui, e acho que nem os personagens de Gyllenhall foram capazes (também em Os Suspeitos, Contra o Tempo).

Gosto muito da leitura de Saramago, dessa confusão armada que fizemos na sociedade. A tentativa de unificar fez com que todos sejam parecidos, porém sem personalidade. Em Ensaio Sobre a Cegueira, somos todos cegos, se não vemos o essencial. Filme para pensar, assim como seus livros. Com exceção do interessante e divertido A Viagem do Elefante, em que o escritor conta como é que foi possível transportar um elefante de Lisboa a Viena, no século XVI, por causa dos caprichos de um rei. Satírico – não poderia deixar de ser. O Homem Duplicado não escapa deste adjetivo também, mas eu diria que está mais para algo enlouquecedor, parecido com o que a dinâmica de que “a gente plantou, agora tem que colher”.

Vale dizer que o diretor canadense Denis Villeneuve é responsável pelo incrível filme Incêndios, já enaltecido várias vezes aqui no blog. Tem um viés político, humano e dramático fortíssimo, enquanto que Os Suspeitos, também dele, é suspense puro. O Homem Duplicado não é nada disso e é tudo isso; somos nossos próprios inimigos, como sugere o título em inglês. Uma boa sacada de um diretor versátil e nada óbvio. Sorte de quem gosta de sair da narrativa comum.

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