O HOMEM AO LADO – El Hombre de al Lado

Cartaz do filme O HOMEM AO LADO – El Hombre de al Lado

Opinião

Há muitas questões comportamentais para se discutir em O Homem ao Lado. A que mais impressiona – talvez por ser o lema e a ordem da nossa sociedade de hoje – é o poder distorcido da estética tanto material, quanto moral. A necessidade de se adequar à estética do seu tempo desumaniza as pessoas. Isso é assustador. E as ferramentas usadas nesta produção, assim como na narrativa, são cruéis e certeiras.

Há dois personagens antagônicos. De um lado, e fazendo papel de bom moço, adequado às convenções e expectativas, está Leonardo, um designer conceituado, poliglota e premiado. Ele mora em uma casa projetada pelo renomado urbanista e arquiteto suíço Le Corbusier (a única da América Latina). É, portanto, uma residência clean, funcional, uma arquitetura baseada nas necessidades humanas – o que se chamou de “máquina de habitar”. Seu vizinho, Victor, é um sujeito oposto: bruto, com palavreado grosseiro e intimidador, não se preocupa com a aparência, nem com a sua postura, muito menos com a estética dos objetos que usa. Até por isso, é bastante direto no que diz. Não se preocupa com a harmonia visual, com os bons modos e resolve quebrar uma parede para fazer uma janela em sua casa, não se importando com o fato de isso perturbar a família vizinha.

Dessa janela nasce uma relação que tem humor ácido fino, mas principalmente traz à tona as fragilidades e máscaras do famoso designer, e revela as excentricidades do brutamonte ‘sem papa na língua’. Ao mesmo tempo que perfeita, a estética da vida, da casa, da estrutura de Leonardo mostra um imenso abismo e distanciamento humano. Enquanto Leonardo esconde suas opiniões e relações atrás das aparências, Victor diz não ser o psicopata que Leonardo pensa que ele é. As duas personalidades terminam se confundindo e, no final, nos perguntamos que tipo de gente é aquela…

Depois do desfecho, percebemos que a discussão pode ir muito além. Pode pairar tanto pela questão da funcionalidade e do isolamento do modelo urbano, da valorização excessiva do visual, da estética e do padrão de beleza, como passar pela análise da aceitação social e profissional em detrimento da humanização das relações. O Homem ao Lado dá margem a muito debate interessante. Pense bem, está tudo aqui, bem perto de nós. Às vezes não precisa nem de vizinho para perceber.

 

 

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